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quarta-feira, 26 de setembro de 2007

A Condessa de Barral e Irmãos

5.(13)



Luiza Margarida Portugal de Barros, quando jovem, pintura de Vanacker sobre marfim em bracelete com caixa de ouro (Museu do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro)


1 - Filha do Visconde da Pedra Branca, Domingos Borges de Barros e de D. Maria do Carmo Gouveia Portugal de Barros, nascida em Salvador no dia 13 de abril de 1816 e batizada na Freguesia da Sé conforme abaixo:
Certifico que, revendo um dos livros findos de assentamentos de batizados da Freguesia da Sé, anos de 1816 a 1829, às fls. 2, consta o assento do teor seguinte:
“No dia dezoito de julho de mil oitocentos e dezesseis no oratório do Dr. Francisco Borges de Barros, com licença de S. Exa. Rvdma. batizou solenemente e pôs os santos óleos o Rvdo. Padre Mestre Frei Joaquim de São Simplício, religioso Franciscano, a Luiza, “filha legítima de Dr. Domingos Borges de Barros e de D. Maria do Carmo Gouveia Portugal . Foram padrinhos o Brigadeiro Pedro Alexandrino de Souza Portugal e sua mulher D. Luiza Rosa de Gouveia Portugal. De que para constar fiz este assento que assinei”. (assinado) o Coadjutor Manuel Pereira de Souza . Nada mais consta.
Como o irmão Domingos, foi Luiza uma criança bastante precoce de inteligência, bem como, muito frágil fisicamente, merecendo sempre cuidados médicos. Seu pai, entusiasmado com a facilidade de aprendizado dos filhos, sempre os incentivava demasiadamente aos estudos. Disto resultou, que o filho mais velho contraísse grave moléstia, que lhe foi fatal; Luiza, teria o mesmo destino não fora a precisa intervenção de um médico que aconselhou à família queimasse todos os livros, e levasse a menina para Mont morency e que a deixasse andar pelas florestas, pois o bom ar e as distrações seriam salutares para a sua recuperação.
De seu pai, herdou a cultura, as maneiras francas e agradáveis, a firmeza de caráter e o comportamento romântico.
Durante sua juventude, participou de muitas viagens diplomáticas com o pai, conhecendo vários países da Europa e passou grande parte de sua infância e juventude na França, o que contribuiu enormemente para aumentar seu grau de cultura, colocando-a acima de qualquer brasileira da época.
Luiza, recebeu de Pedra Branca uma educação esmerada e em companhia de sua mãe, aprendeu os princípios da verdade e adquiriu o gosto pelo belo. Seu pai a ensinou respeitar e amar o dever, o que expressou nos seguintes versos:





Põe na virtude, Filha querida,
De tua vida todo o primor

Não dês à sorte, que tanto ilude,
Sem a virtude algum valor

Tudo parece : murcha a beleza,
Foge a riqueza, esfria Amor

Mas a virtude zomba da sorte,
E´ té da morte disfarça o horror

Cultiva atenta, filha mimosa,
Sempre viçosa tão linda flor!


Da sua primorosa educação Luiza colheu vários conhecimentos, falava fluentemente as principais línguas vivas, escrevia cartas com graça e desenvoltura, a naturalidade e a finura marcavam o estilo da época.
Em companhia dos pais percorreu a Itália e a Suíça, tendo sido levada mais tarde, a passear pelas margens do Reno. Estas viagens contribuíram para alargar-lhe os horizontes do saber.
Na França estava reservado ao seu querido pai, nova e cruel dor. A Sra. da Pedra Branca, estava grávida e projetava dar ao filho perdido e pranteado um pequeno sucessor; infelizmente, porém morreram em 06 de março de 1831, mãe e filho, após um parto muito difícil, e o infeliz viúvo, tomando horror à cidade de Paris onde perdera suas afeições mais caras, pediu demissão e se retirou com sua filha e uma governanta inglêsa, Srta. Blaír, para Boulogne - Sur - Mer. Aí Luiza conheceu as senhoritas Maude e Hartwell que se tornaram desde então suas melhores amigas. O Sr. Hartwell ligou-se estreitamente ao Senhor da Pedra Branca e quando este, pressionado por seus amigos e correligionários para vir enfim ocupar sua cadeira no Senado, o que ainda não havia feito, resolveu partir para o Brasil, tendo o Sr. Hartwell se oferecido para ficar com Luiza em sua casa como uma quarta filha, durante a ausência do amigo. Pedra Branca aceitou e partiu para o Rio de Janeiro. No mesmo navio viajavam o Conde de Saint - Priest recentemente nomeado Ministro da França no Brasil e seu jovem primo, o Visconde de Barral, que se tornou amigo de Pedra Branca. Esta amizade conduziria o Visconde de Barral, em seu retorno à França a procurar seu velho amigo e conhecer sua filha, dela se enamorar e desposá-la.
No século XVIII, um Barral casou-se com uma Beauharnais , um neto deles foi o Marquês Alexandre Beauharnais que casou-se com Augusta da Baviera, dos quais nasceu Amélia, segunda Imperatriz do Brasil.

O casamento de Luiza, ocorreu em 19 de abril de 1837, em Boulogne-Sur-Mer, com um primo dos Barral-Beauharnais, Jean Horace Joseph Eugêne, Conde de Barral, Marquês de Montferrat e Marquês De La Batîe D’ Arvillars, nascido na França a 19 de Outubro de 1812, filho de François Joseph Amédée Hyppolyte de Barral e de D. Cathérine Robin de Scevole.
Logo depois, Pedra Branca retorna ao Brasil, acompanhado do jovem casal. Algum tempo depois, Com tantos predicados positivos a “Menina de Engenho”, chega ao esplendor da Corte francesa. A Viscondessa de Barral, torna-se dama de honra da Princesa D. Francisca de Bragança, irmã do jovem Imperador D. Pedro II, e que esposara o Príncipe de Joinville, terceiro filho do rei da França, Luiz Felipe de Orléans, passando a residir na corte . D. Francisca, encontrou na jovem Viscondessa de Barral, sua patrícia e amiga, a confidente que precisava e obteve de seu sogro que a nomeasse Dama de Honor (1844). A Condessa permaneceu como dama da Princesa de Joinville, até que a revolução de 1848, na França arrebatou ao Rei Luiz Filipe o trono.

A Viscondessa logo retorna ao Brasil em companhia do marido, e dedicam-se à vida rural. A vida no Engenho de São Pedro, era simples e muito agradável ao casal.
Enquanto o Senhor Barral percorria a cavalo as vastas plantações de cana de açúcar ou administrava os trabalhos de fabricação do açúcar, sua esposa passava o tempo lendo para o pai ou ensinava o catecismo aos negrinhos, fazia visitas na enfermaria, principalmente quando precisava preparar medicamentos ou fazer algum curativo. Criava com satisfação pombos, patos e frangos, gostava de montar cavalos, e ao cair da tarde reunia-se ao esposo para juntar as vacas e touros no curral. Os vaqueiros ajudados por cães, tangiam o gado furioso para a entrada, espetando com lanças flexíveis os bezerros, bois ou touros que tentavam constantemente escapar do rebanho. A intrépida amazona, acostumada com as caçadas de Compiègne reencontrava, nesses momentos, toda a sua audácia de outrora.
No dia 10 de fevereiro de 1854, nascia na cidade de Salvador o pequeno Horace Dominique de Barral, que foi bastante festejado em virtude de ser o primeiro filho e de já estarem casados a dezesseis anos, além do mais, a satisfação do filho ser um menino.

Algum tempo após o nascimento do filho, uma terrível epidemia se declara na Bahia, o cólera fazia a cada dia centenas de vítimas. O pavor e o desespero foram de tal ordem que ninguém ousava socorrer os coléricos e em muitas casas onde os pais acabavam de sucumbir ao flagelo, as crianças totalmente desprotegidas, ficavam abandonadas em virtude do medo das pessoas em contrair a terrível doença, sobreviviam de alguns alimentos que eram jogados de longe. A epidemia castigava menos nos campos, e todos os amigos da Senhora Barral foram unânimes em opinar para que ela deixasse sua casa da cidade, aonde viera dar a luz, e se refugiasse com o filho e o pai no Engenho onde se encontrava o marido. Preparava-se para acatar os conselhos judiciosos, foi quando teve conhecimento da situação miserável dos infelizes órfãos que o pânico geral condenava ao abandono e sem dúvida à morte. Logo, mudando de projeto resolveu ficar e ajudá-los. Alguns amigos foram convocados, de imediato foi planejado a forma como iriam arrecadar donativos e onde iria localizar-se o abrigo.
O heroísmo foi contagioso, eletrizados por tanta coragem e confiança, as senhoras da Bahia organizaram-se em grupos de socorros. Algumas se dirigiam para os locais infectados pela cólera, para de lá retirarem as crianças; outras saíam pela cidade batendo em todas as portas e recolhendo donativos. Em poucos dias o asilo provisório estava fundado, quando retornava dos bairros que estavam mais contaminados, a Sra. de Barral fazia questão de amamentar o filho que a esperava. Dizia ela, quando as companheiras suplicavam para que fugisse ao contágio, que Deus não iria puni-la, pois estava praticando o bem.
Corajosamente, dirigiu pessoalmente o orfanato da Providência, até o dia em que o colocou nas mãos de algumas irmãs de São Vicente de Paula que foram chamadas às pressas, sendo as primeiras desta congregação, a serem introduzidas no Brasil. A Casa da Providência foi a primeira obra de assistência social feminina no Brasil, fundada no dia 09 de julho de 1854, a princípio tinha o nome de “Confraria das Senhoras da Caridade”, por ordem do Arcebispo Dom Romualdo Antonio de Seixas e iniciativa da Viscondessa de Barral. Sua primeira sede foi o prédio numero 19, ao lado da Igreja do Rosário no Pelourinho.
Pouco depois da instalação definitiva dessa instituição, que Deus sempre protegeu e que se tornou uma das mais florescentes fundações do Brasil, a Senhora de Barral teve a tristeza de ver seu pai, que ficou paralítico de ambas as pernas, renunciar a permanecer na fazenda, onde não poderia receber imediato cuidados médicos. Por outro lado, o Sr. de Barral não podia deixar a plantação e o Engenho do qual se tornara único responsável. Portanto, ela tinha que se resignar a se dividir entre o pai doente e o esposo, para atender a dupla exigência do seu coração.
Certo dia encontrava-se no Engenho, quando recebeu a notícia de que o seu pai estava muito mal. Nesta época, chovia torrencialmente na região, as estradas, ou melhor, a sequência de caminhos estavam mais ou menos impraticáveis. Doze a quinze horas seria o tempo necessário para percorrer o trajeto, quando na boa estação durava aproximadamente de quatro a cinco horas. Muitas vezes a lama que se encontrava chegava ate a barriga dos cavalos atrasando consideravelmente a viagem, e a chuva não cessava de cair havia alguns dias, eram chuvas tropicais, verdadeiras trombas d’água.
Mesmo conhecedora destas informações a Condessa não hesita, monta seu cavalo, seguida de um velho negro servidor de confiança. Não contara, entretanto, com as cheias dos rios, sobretudo um que atravessava a estrada de Santo Amaro, estava tão volumoso que até já tinha derrubado a ponte onde passariam. Sentindo que ficaria sem notícia se tentasse contornar o rio, ou até correndo o risco de perder o vapor de Santo Amaro e ter que esperar vários dias pela nova partida, não viu outra solução senão atravessar o rio a nado, coisa que fazia muito bem. Seu acompanhante atravessou a nado juntamente com os animais, e logo em seguida a Condessa desfazendo-se do seu vestido de amazona que amarra à sela, atira-se ao rio de forma destemida, e ao cabo de algumas horas, encontrava-se à cabeceira de seu pai.
Seu pai, apesar dos cuidados que recebeu, faleceu no dia 20 de março de 1855, mal terminara o luto e eis um mensageiro trazendo um enorme envelope lacrado com as armas de Bragança e a indicação do mordomo da Casa Imperial, Sr. Paulo Barbosa da Silva, escrevia uma carta à Sra. de Barral anunciando que Sua Majestade resolvera confiar-lhe a orientação da educação de suas filhas, tendo decidido chamar para esta invejável missão, a antiga dama de honra de sua irmã D. Francisca, dama que sua Majestade apenas conhecia, mas de quem a princesa fazia tantos elogios em suas cartas e cuja a fama de saber, coragem e virtude chegara até a Corte. Embora bastante lisonjeada com aquele tão inesperado convite, foi muito prudente na resposta, tendo inclusive solicitado detalhes e apresentado algumas condições ao Mordomo da Casa Imperial.
Alguns meses depois, uma corveta de guerra (1) vinha buscar na Bahia a nova governanta, nomeada Dama de Palácio por Decreto de 31 de agosto de 1856, e a transportava com grandes honras ao Rio de Janeiro. A Senhora de Barral permaneceu algum tempo no Palácio de São Cristóvão; mas esta residência não convinha aos gostos de independência de seu marido e pouco depois o casal se instalou numa grande e bela casa situada nas proximidades da Quinta Imperial, na casa pertencente ao Visconde de Mauá, à Rua Nova do Imperador ( Depois Av. Pedro Ivo e atual Av. Pedro II ). Mudaram-se pouco tempo depois, para a Rua Bela de São João e mais tarde para a Rua da Princesa, hoje Catete.

(1) Tratava-se da corveta Recife, comandada pelo 1o. Tenente Delfim Carlos de Carvalho, futuro Barão da Passagem. Com quatro dias de viagem desde a Bahia, chegou ao Rio de Janeiro em 31 de agosto de 1856, data do Decreto de Nomeação da Condessa de Barral, com quem vinha seu marido, seu filho, três criados e quatorze escravos.
( Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 1o. de setembro de 1856. )
( Nota do serviço de pesquisa Histórica )

Exerceu de 1856 a 1864, sua elevada e espinhosa missão de educadora das Princesas D. Isabel e D. Leopoldina, que na época ainda em tenra idade, contavam 10 e 9 anos respectivamente.
Concluída a tão nobre missão D. Pedro II, impressionado com a habilidade intelectual da Condessa de Barral, concedeu-lhe em 16 de dezembro de 1864, em memória do seu saudoso pai, o título de Condessa da Pedra Branca. Além do título, ofereceu-lhe valioso honorário vitalício, que ela não aceitou.
Comentários de Wanderley Pinho, Salões e Damas ..., 195/226
“Nenhuma mulher daquela época teve igual poder social ... e Político”. Reflexo da situação palaciana que desfrutava?
Áulico resplendor de aia das princesas, íntima do passo?
Nada disso, que entre tantas damas assim nenhuma foi como ela; ou tudo isso, a servir um espírito vivo e culto, desembaraçado e sagaz, que captava como um imã, e impunha suavemente como uma onda que se desenrola e domina.
Menos Egéria, inspiradora que distribuidora de graças, praticava a melhor política que podia ser praticada por uma mulher.

Não atravessou a vida na grande sociedade e nos paços reais sem sombras de antipatias e algumas hostilidades. Suprema sutileza foi justamente dissimulá-las e neutralizá-las, convertendo-as, quanto pode, em alianças e amizades. A mesma Imperatriz não sofreu inteiramente quieta o ascendente que na família Imperial veio exercer a fidalga baiana.
Era a Condessa de Barral excepcionalmente adaptável aos vários meios em que viveu; cortes de reis, na França de Luis Filipe, no Rio de Janeiro e na Petrópolis de Pedro II; entourage de exilados reais; uma capital de Província, como a Bahia; um Engenho de Recôncavo, como o São João”. Após a morte do seu esposo em 21 de março de 1868 em Paris, a Condessa de Barral e de Pedra Branca, tomou para si os ímpetos abolicionista do seu pai de conceder alforria a escravas que dava luz à seis filhos. Em suma , por verba testamentária, concedeu a muitos cativos, recobrarem a liberdade.Obedecendo aos seus naturais sentimentos, corroborados por tão filantrópicos exemplos assumiu a causa das pobres vítimas.
Executou a risca os desejos do pai, a respeito da alforria das mães de seis filhos. Em 1867 juntamente com João Garcez dos Santos, resolveu declarar livres os nascituros de todas as suas escravas; antecipando assim a realização do principal escopo da lei Rio Branco promulgada três anos após. Seguiram-lhes o exemplo os frades da Ordem de São Bento, entre os quais havia vários Santoamarenses, libertando os 4000 escravos que a Ordem possuía. Finalmente antes de começar no país, em 1880, o movimento popular em prol da abolição, a virtuosa senhora, para coroar a obra do resgate empreendido por si, libertou todos os escravos que ainda em grande quantidade, estavam a seu serviço.

1) Nota: Os ciúmes não tardaram a se manifestar e a envolvê-la, provocando restrições por parte das outras senhoras, Damas do Palácio, visto que a Condessa fora investida no cargo de principal Dama da Casa Imperial, a serviço da Imperatriz D. Tereza Cristina Maria (3a. Imperatriz do Brasil) , filha de Francisco I - Rei das duas Sicílias ( 14-03-1822 a 28-12-1889).
A todos o Imperador fez sentir o desagrado em que incorreriam aqueles que " contraíssem por seus atos e palavras a influência que deve a Condessa de Barral ter sobre a educação de S.S.A.A. ..." Ordem escrita do Imperador D. Pedro II - em Magalhães Jr. op . cit., p. 13 . Nota pesquisada no livro Cartas a suas Majestades
A Condessa apontada na primeira fila da gloriosa plêiade dos campeões da abolição, em 1888 prescrita na lei, assinada pela imortal princesa de quem fora juntamente aia e amiga.
Já em 1886 a abolição tornava-se para a Condessa de Barral um processo irreversível, preocupava-se, entretanto com a dimensão e com as reais conseqüências para a família imperial, tanto que aflita escreve para o Imperador demonstrando sua preocupação.
No dia 28 de dezembro de 1886, o Imperador responde a sua carta, entretanto, não demonstra a mesma preocupação. “A questão da emancipação vem progredindo e espero ao longe vê-la realizada sem maiores abalos”, porém, é insinuante quanto ao afeto que sentia. “Minha vida é a mesma e quando passo pelo Chalet Miranda não imagina que saudades tenho”.

E os posteros, assim como os contemporâneos, diante da venerável figura da Condessa de Barral e Pedra Branca, iluminada pelos esplendores celestes da caridade, terão mais um relevante motivo para exaltar-lhe a memória, recordando que ela espontaneamente restituiu a centenas de homens à comunhão civil e política da Pátria, atitude que certamente daria bastante orgulho ao estimado pai.
“Ali ou acolá era sempre das primeiras se não a primeira, sabendo, como ninguém ser em Roma, romana”.
Vejamo-la nas Tulherias como dama de Honor da princesa D. Francisca, irmã de D. Pedro II, que acabara de casar com o príncipe de Joinville e figurava na Corte de seu sogro o rei da França. Usava então de ousados estratagemas, finamente mundanos, para bem situar a sua ama na alta sociedade francesa.
Quando em 1871 os imperantes foram ao velho mundo, reassumiu a Condessa de Barral o posto de Dama da Imperatriz e com eles viajou. Por onde andou, em cidades e cortes, mais que tudo foi uma embaixatriz da inteligência e da graça brasileiras. O Imperador surpreendia pela simplicidade, pela cultura e gosto das ciências e artes. Mas carecia de verve. Demais não se despia inteiramente da sua indumentária de rei, austero e frio. A Imperatriz era só bondade. A Barral, porém, expandia-se brilhando, ajudada do talento e de seus dotes literários.
A estima, a admiração intelectual, a amizade amorosa, o amor físico do Imperador pela sua Condessa (que tanta influência ou quase domínio sobre ele exerceu) e toda a gama de sentimentos e concessões dela, por ele e a ele, tudo isso que a gente do Segundo Reinado não queria crer e a tradição guardou, para o comentário poético ou malicioso; esse romance, tido e mantido numa tal névoa de incerteza que lhe dá - por isso mesmo que se portou discretamente oculto e ... honestamente dissimulado - o privilégio de ser comentado com simpatia e até respeito, desvendou-se de todas as gazas com a publicação, 65 anos após a morte dos dois amantes, da mutilada correspondência entre ambos.”
* Vide cartas da Condessa de Barral na II Parte do trabalho - pág.


Em 1890, atendendo aos inúmeros convites da Condessa, D.Pedro II visitou Voiron no Castelo em que vivia. Da visita temos fotos e trechos do diário do Imperador exilado como se segue:


Março 37 – Doc.1057
Caderneta de notas diárias do Imperador no exílio nº 32 – 13 de junho a 8 de agosto de 1890 (faz referência a Condessa). 108 fls.

Trechos do Diário de D. Pedro II (Caderneta nº 32 – Junho de 1890) com referências à Condessa de Barral.

16(2ª fª)... Almocei bem, terminei a leitura do que tinha até agora a respeito do Camilo e vou escrever à Condessa... [julho de 1890]. 24(5ª fª)... E agora vou a Riancey – depois de enviar telegrama à Condessa...



25(6ª fª)... 7h 55’ Voiron. 5h 20’ Condessa, Dominique,Chiquinha, meninos destes, Dória e Amandinha. Bom quarto para mim, o da Condêssa [...] Acabo de passear de carro com a Condessa, Aljezur e Mota Maia...



26(Sábado)... Dei meu passeio [a pé] e de carro pelo bosque e quase toda a povoação, traduzindo [sic] ramos para a Condessa e para a Isabel... 2 ¾ Dei bonito passeio a pé com Isabel, Condessa, Amandinha e os pequenos, netinhos e Jean Dominique...



27(Domingo)... Já tive a visita de bons dias da Condessa que me trouxe versos de Blanc ancien maire de Voiron, com a data de 6 juillet 1890. [...] já entreguei belos ramos à Condessa e à Isabel. 11h 20’ Acabo de estar com aquela a quem dei a carta que melhorei a dicção dela para Flaige Blanc [...] Recebi o Dr. Emílio da Fonseca o qual veio com a mulher e filhos até aqui para ver-me [...] A Condessa convidou-os a jantar. [...] 6h 10’ Fui com a Condessa, Algezur e Mota Maia de carro e a pé até Moirans ao longo das montanhas e voltei por outro caminho até o castelo de Barral... joguei bilhar com a nora da Condessa, estando presente Mme. Lepic. Fui passear a pé com a Condessa e o Dória pela floresta...



30(4ª fª)... Conversei com a Condessa, Amandinha e outra senhora da casa, tomei chá, despedi-me delas e da Chiquinha que tocava piano, informando-me de Dominique incomodado de cólicas desde o passeio...



31(5ª fª)... Já vi a Condessa na ida e na volta e informei-me da saúde de Dominique que [...] tenho estado conversando com a Condessa e outras pessoas... 10h 10’ Antes do jantar. Passei a pé com a Isabel e a Condessa pela Floresta.



1 de agosto (6ª fª)... 10h ¼ Jantei bem. Tenho estado com a Condessa, a mulher do Mota Maia e a Amandinha a ouvir a Chiquinha e a Isabel tocar bonitas músicas...



2 (Sábado)... 3h ¼ Pouco li pois estive conversando coma Condessa. 5h Volto do passeio de carro com a Condessa e o Aljezur pela volta “dês Gorges” que é bonito.[...] Jantei bem... Depois conversei sobretudo com a Condessa tendo chegado Mota Maia de sua excursão à Grande Chartreuse...

3 (Domingo)...Voiron que tudo encanta com a floresta
Suas montanhas,seu rio a sussurrar
Em torno do Castelo, que a habitar
Sua dona muito mais graça lhe empresta

Breve lhe estou ausente mas não resta
A mim só com o regresso já sonhar
Pois o oceano não pode me afastar
Do que hoje a distância mal contesta

Viveremos assim mais com a amizade
Sentindo que ela assim nos avizinha
Do que é em tempo e gôzo eternidade

E ao Eden recobrado encaminha
Sem ter de alcançar mais a ansiedade
Melhor possua talvez do que já tinha

... Conversei com a Condessa e daqui a pouco vou deitar-se...




4(2ª fª)... Já dei o ramo da Condessa [...] 10h 5’ Depois de falar com a Condessa, ouvir Chiquinha ao piano e dizer adeus aos meus, tomei chá e vou ler ainda...

5(3ª fª)... Passeei dei carro e bilhar com Aljezur. Dei antes os meus dois ramos... Li Lê Brèsil de 8. Condessa está perto de mim também tendo [...] Estive conversando com a Condessa.



6(4ª fª)... Pus o ramo para a Condessa no chão à porta desta, que julgo se estava vestindo e respondeu-me do quarto. Vou à tradução do “sino” de schiller depois de ter copiado o soneto com a data de hoje para da-lo a Condessa. [...] Li Lês étoiles, artigo bom de Alphonse Daudet com esta nota por letra da Condessa que o tinha enviado à Isabel: “Lisez et montrez à l’Empereur em souvenir de son astronomie”. A Condêssa acaba de dar-me [...] Ouvi Chiquinha e a filha de Japurá tocar, conversei com a Condessa e vou deitar-me e ler até dormir.





7(5ª fª)... Deixo hoje Voiron e, com que saudades, os prazes[sic] de uma amizade de quase meio século, embora se gozem por todos os modos possíveis e apesar das maiores distâncias, custa e muito a deixar de gozá-la na intimidade; porém resta a esperança de breve nos revermos e o estudo é o meu grande consôlo. [...] Estou quase vestido tendo tomado boa ducha de onde levo 4 ramos para a Isabel, Condessa e Jjapurazinha. [...] 6 ½ Despedidas saudosas na estação e partimos.


(Carta enviada pelo Arquivo Histórico do Museu Nacional em 12 de março de 1997, Com fotocópias de documentos.)

A Condessa de Barral e da Pedra Branca, D. Luiza Margarida Portugal de Barros, já cansada faleceu na Vila de Saint Solange par Neuvy-Sur-Barangeon, Cher, em Paris/França no dia 13 de Janeiro de 1891. Falou: “Estou cansada, disse por fim, deixem-me dormir”, adormeceu para sempre, com a serenidade de uma consciência pura, a coragem de uma pessoa que sabia não ter que prestar contas a Deus, senão de uma vida plena de dedicação, afeto e caridade.





Fotografia da Condessa de Barral e Pedra Branca tirada em París, no estabelecimento de Ferrier & Lecadre, 56 e 58, Rue de Larochefoucault, pouco tempo antes do seu embarque para o Brasil para assistir ao casamento de seu filho Horace-Dominique, Conde de Barral e Marques de Montferrat. (Da coleção do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro)


Na participação do óbito da Condessa de Barral, figuram seus parentes Carneiro da Rocha, ainda vivos em 1891. Inclusive o Coronel Nicolau Carneiro da Rocha, que, como Procuradores da Condessa de Barral, na Bahia, ocasionou-lhe prejuízos na administração dos Engenhos S. João e São Pedro, conforme carta que escreveu a D. Pedro II, Seu irmão Antonio Carneiro da Rocha, foi Deputado Geral, Ministro da Marinha, da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Senador pela Bahia. Escolhido, ao que se diz, por influência da prima Condessa de Barral, junto ao Imperador.


5.(13)


2- Alexandre Sebastião Borges de Barros


Filho de Domingos Borges de Barros fruto de um romance quando solteiro com Françoise Elisabeth Dermé, tendo sido devidamente registrado, e ao voltar ao Brasil, Borges de Barros, tê-lo-ia recomendado ao seu amigo Marquês de Marialva, responsabilizando-se, através do seu procurador, pelas despesas decorrentes com a educação do menino. Alexandre, alegando ser brasileiro, pediu a D. Pedro I o lugar de secretário do pai, o que foi concedido.

5.(13)

3- Domingos Borges de Barros filho

Morreu em Paris, no dia 05 de Fevereiro de 1825 com 10 anos de idade ; ali foi embalsamado e transferido para a Villa de S. Francisco, e depois para a Capella do Engenho São Pedro, mais tarde seus restos mortais foram juntar-se ao de seu pai no mausoléu dos Borges de Barros no cemitério do Campo Santo em Salvador.

Domingos Borges de Barros

1.(12)

5- Domingos Borges de Barros (13)


(Visconde da Pedra Branca) 1779 a 1855
Acervo do Itamaraty - óleo sobre tela, obra de Hermann Winterhalter, pintor da escola alemã.

Domingos Borges de Barros, filho do Capitão - mor Francisco Borges de Barros e de D. Luiza Clara de Santa Rita Borges, senhores do Engenho de São Pedro, na Freguesia do Rio Fundo, Comarca de Santo Amaro da Purificação, na depois Província da Bahia; nasceu a 10 de Dezembro de 1779.
Consta o batismo conforme segue:

“São Pedro do Rio Fundo - anos de 1777 a 1791 às Fls. 94 - Aos sete dias do mês de fevereiro de Mil Setecentos e Oitenta anos batizou de meu beneplácito o Reverendo Cônego Luiz Antonio Borges de Barros, na Capela de São Pedro, filial desta Matriz de São Pedro, e pôs os Santos óleos a Domingos Borges de Barros, filho legítimo do Sargento - mor Francisco Borges de Barros e de sua mulher D. Luiza Clara de Santa Rita, moradores do Engenho da dita Capela dos Borges.
O Vigário encomendado foi Francisco José da Silva Reis”.


Ruína da Matriz de São Pedro em Rio Fundo - foto de Roberto Borges (1997)

Fez os primeiros estudos na terra natal, depois o secundário em Portugal-Lisboa, no Colégio dos Nobres em 1792, matriculou-se na Universidade de Coimbra em 03 de Outubro de 1800, foi o estudante brasileiro de no. 512, no curso de filosofia - era então, Ciências Naturais, e formou-se em Bacharel, Licenciando-se a 06 de Julho de 1804.
Desde cedo teve interesse pelas letras, havendo nas suas obras tradução de versos de Parny, quando estava ainda no colégio em 1801.
Viveu alguns anos em Lisboa, onde se dedicou à Literatura, em convívio com Bocage, Filinto Elísio e José Agostinho de Macedo.
Fez inúmeras traduções do Grego, do Latim, do Francês, do Italiano... de Safo, Vergílio, Delille, Parny, Voltaire, La Fontaine e Metastasio. Em Paris 1806, ficou retirado e depois detido, quando da invasão Francesa na Península em 1808. Lá também na mesma situação estavam figuras importantes, como o Marquês de Marialva, os cientistas Corrêa da Serra e João Antonio Monteiro e o poeta Filinto Elísio. Havia também alguns brasileiros como sejam: o baiano Caetano Lopes de Moura que se encontrava desde 1803 na França, tendo acompanhado as tropas de Napoleão, na qualidade de cirurgião, José Antonio Soares de Souza que era estudante na Faculdade de Medicina de Paris etc.
Já em 1809, faz ao pai versos citando o horrível desterro e diz desalentado:


"Nunca mais vos verei, ó pai, ó pátria :
Sofra-se antes a morte, do que a infâmia
Dos déspotas, aos pés, curve a baixeza."
(I, 60)


Alusão a Napoleão que o retinha, em guerra com Portugal. Rico na sua terra chegou na França à necessidade.


"Em Paris, certo tempo sem ceitil ,
Vivia certo moço do Brasil .
Que deveo por um tempo a certo amigo
Mal de escaça mesada havia a soma"
(I , 88)

Como soubesse bem a língua Francesa escreveu um dicionário Português - Francês / Francês - Português, e que somente foi publicado em 1812, sem o nome do autor em dois volumes, trabalho de exílio para viver.
Sacramento Blake diz que, prontamente Balbi e outros afirmaram, desde logo como obra de sua autoria. Em seu livrinho de versos a amigos, datados de Paris, 1810, existe uma nota: “Fazia então o autor o Dicionário Francês - Português, um maldito dicionário” que justifica a nota à página 99 do Tomo I das “Poesias”. Portanto, não foi um trabalho feito com entusiasmo e gosto já que, a 19 de março de 1809, dia de são José, escreveu a um amigo devoto do santo:


"Senhor, quis de São José
Cantar o aniversário ,
Mas tem secado a Musá
Um maldito dicionário."

Poesias oferecidas às Senhoras brasileiras por um bahiano, Paris, Chez Aillaud Libraire, MDCCCXXV, t I pág. 99.
Quando o Dicionário foi publicado em 1812, já o autor não estava presente.
Em 1810, ocasião do casamento de Napoleão com Maria Luiza, aproveitando-se da paz com toda a Europa e contando com a indulgência do Imperador Francês, tirou proveito o poeta deste estado de espírito para fugir no brigue “Galeno” para os Estados Unidos, o que lhe inspira uma epigrama humorística:

"Em tão miserando estado
Pôs-me da Europa o terreno,
Que para tornar á pátria
Foi-me preciso um Galeno."
Em 1811, por uma tradução de Virgílio, sabe-se que estava no mar rumo a Nova York. a Márcia, a amada, diz, de Filadélfia, em 1811:

“Sim! inda existo, o peito inda me inflama”
(I,17)

Deve ser uma baiana, porque lhe chama “meu bem”, embora infidelidades triviais, “fazendo de conta”:

“Se amo de Nise os olhos, são teus olhos,
Se de Tirceu o corpo, são teus modos
Que nelas vendo adoro” .
(I,18)

É bem assim, porque numa “Ode à beleza”, a Mlle. B.., filha de Guadelupe, datada de Nova York, 1811.

Em roupas de manhà deixando o leito
Antes que o toucador te insulte encantos
Qual leda madrugada
Quasi despida, destoucada Venus,
Ante as rivais no Ida, se apresenta
E Páris não balança
Quanto mais nua, tanto mais agradas.
(I,20)
Em 1811 sai dos Estados Unidos com destino à Bahia, onde o prendem por suspeitarem ser ele um agente da França contra Portugal, “Jacobinismo”.
Estando preso na cadeia da Bahia, em 1811 faz um poema. “Conta que deixou pai, irmão, pátria... por climas estranhos, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Inglaterra, e dizia”:

“É crível, pode ser ! Ó Rei , ó Pátria
Os ferros oiço qu, annuncião crime”
(I, 112)
“Arrastar podem a inocencia aos cárceres”
(I, 113)
Em seguida outro poema “aos amigos”, estando o autor na Bahia preso a bordo do brigue “Tamerlão”, partindo para o Rio de Janeiro onde seria apurada sua culpa, e lá o puseram em liberdade.
No Rio colaborou com o jornal “O Patriota “(1813 - 1814), onde os artigos eram assinados B ... são de sua autoria. Os artigos versavam a respeito de Agronomia e Química.
Em 1813 publica no Rio, traduzido do Francês, 40 páginas, in -8o., na Imprensa Régia, o poema de Legouvé, do Instituto de França:
“O merecimento das mulheres”, poesias oferecidas às senhoras brasileiras por um baiano.
Declara o poeta que lendo a obra intitulada:
“Deduções philosoficas da desigualdade dos sexos e seus direitos políticos por natureza”, objeto de indicação às Cortes, em 1822, para que as mulheres pudessem votar, quis o autor aproveitar e publicar sua contribuição, deste poema traduzido. Teve aplauso da Marqueza de Alorna, da poetisa portuguesa Alcipe, então Condessa de Oyenhausen e outras. Borges de Barros sempre gostou e deu bastante valor às mulheres.
Casou-se, em 20 de maio de 1814, na Bahia, com D. Maria do Carmo de Gouvêa Portugal, 19 anos (ele com 35), ela já viúva do Coronel Manoel Ferreira de Andrade, ricamente dotada.
É a Marília dos seus versos, pequena transformação do primeiro nome. Em 1815 lhe nascia o primeiro filho, Domingos; e em 1816, a filha , Luiza.
Tornou à Europa como Deputado às Cortes de Lisboa em 1821 e participou da Constituinte portuguesa, onde apresentou um projeto de emancipação do sexo feminino, e de onde se retirou por não querer jurar a Constituição votada.
Em uma das sessões das Cortes Constituintes, exatamente no dia 18 de março de 1822, Borges de Barros apresentou um projeto, no qual propunha, além de outras medidas, a extinção do tráfico dos Africanos e a emancipação gradual dos escravos. O Deputado manifestava-se formalmente contra o comércio dos negros, vale ressaltar que no Brasil
estas idéias ainda não tinham se manifestado, e nas próprias nações cultas da Europa, salvo a Inglaterra, o tráfico ainda não tinha sido totalmente suprimido. Portanto, Pedra Branca, tornou-se naquele Parlamento o precursor dos seus compatriotas que na terra natal propagaram os germens da reforma do elemento servil.
Tendo prévio conhecimento da pretendida idéia de recolonização do Brasil, escrevia Domingos Borges de Barros e seus companheiros baianos Miguel Calmon du Pin e Almeida (o futuro secretário da junta de Cachoeira, pela Independência, e futuro Marquez de Abrantes), carta política, também pela Revolução da liberdade, carta lida a 25 de junho de 1822, na casa do Desembargador Araújo Gondim, na presença de ricos homens do Recôncavo.
É o registro do primeiro vagido de Independência, primeiro dos acontecimentos até 7 de setembro no Ipiranga.
Em 23 de setembro, em Portugal ainda não se sabia da maioridade do Brasil, aqui declarada, e Borges de Barros, com outros 33 Deputados brasileiros, firma a Constituição política da Monarquia Portuguesa.
Mas a independência foi um fato e Portugal a princípio não reconheceu assim como a França e a Inglaterra. Borges de Barros foi mandado de Lisboa a Paris, no sentido de conseguir o reconhecimento do governo da França, sendo nomeado encarregado de negócios em 24 de novembro de 1823, missão difícil, pois Portugal pertencia a Santa Aliança e só depois de 1825 após os bons ofícios de Canning e Stuart, seria possível o reconhecimento da Independência por Luiz XVIII. Somente a 11 de fevereiro de 1826, Borges de Barros apresentou ao Ministro de Estrangeiros, Barão Damas, suas credenciais e foi assim reconhecida a Independência e o Império no Rio, desde 24 de outubro de 1825, entrando o Conde de Gestas em relação com o Governo de Pedro I , para o tratado de amizade e Comércio de 08 de janeiro de 1826.
Borges de Barros foi agraciado a 12 de outubro de 1825 com o título de Barão.
Ficou em Paris, Ministro do Brasil. O filho ilegítimo alegando ser brasileiro, pediu a Pedro I o lugar de secretário do pai o que foi concedido, chamando-se Alexandre Sebastião Borges de Barros, fruto de um romance quando solteiro com Françoise Elisabeth Dermé, tendo sido devidamente registrado e ao voltar ao Brasil, Borges de Barros, tê-lo-ia recomendado ao seu amigo Marquês de Marialva, responsabilizando-se, através do seu procurador, pelas despesas decorrentes com a educação do menino.
Os legítimos cresciam e conviviam fraternalmente com o outro, adotado pela boa Dona Maria do Carmo, que permitia chama-la de “Maman”.

Em 05 de fevereiro de 1825, com dez anos de idade, falece na França em Fontenay-Aux-Roses, Domingos Borges de Barros, causa do poema feito pelo pai intitulado “Os Túmulos”. Foi escrito, isto é reeditado pela Academia Brasileira de Letras, em 1945 com erudito e brilhante estudo de Afranio Peixoto, que considera Borges de Barros precursor do Romantismo no Brasil, também ocorreu uma edição na Bahia em 1850, com algumas notas do Dr. A.J. de Mello Moraes.
No dia 02 de outubro de 1826 passou a Visconde, tendo sido alvo de ataque de José Bonifácio de Andrade e Silva, que o chamava ironicamente de “Pedra Parda”. Insinuava o Visconde seria amulatado, entretanto, a descrição do poeta Filinto Elísio em carta endereçada ao próprio Borges de Barros em 1814, esclarece a impropriedade do apelido:


"Eu, velho de 80 anos bem puxados, e Vm. mancebinho
alvo e louro, mui amoladinho e mui gamenho."
(Arquivo do Museu Imperial de Petrópolis .)

Em 1826 foi escolhido Senador pela sua Província, entretanto estava ausente na posse oficial em 22 de janeiro de 1826. Nem para tomar posse veio ao Rio.
“Que esperassem: Paris vale bem mais...“ Estava Borges de Barros em Paris cuidando da educação de sua filha, a “Yayá”.
No ano de 1829, desempenhou no lugar de Barbacena, missão bastante melindrosa, quando foi escolhido, pela sua experiência Européia, para ajustar o casamento da Princesa Dona Amélia de Leutchtenberg com o Imperador D. Pedro I, e por cujo serviço obteve a “Gran Cruz da Ordem de Cristo”, a dignatária da Rosa, onde recebeu a 18 de outubro de 1829 o título de Visconde com grandeza através de decreto.
Em 1831, com a esposa tragicamente morta, Domingos dedica-se inteiramente à educação de sua filha e resolve viajar para o Brasil.
Somente tomou posse de sua cadeira sete anos depois, chegando ao Rio de Janeiro em 18 de julho de 1833 a bordo do paquete inglês “Reynald”, conforme notícia da Aurora Fluminense, de 26 de julho de 1833. Durante a posse, sem muito entusiasmo orou, agradecendo a investidura, não retornando mais, até que em 55, deixava sua vaga para Angelo Moniz da Silva Ferraz, Barão de Uruguaiana.
Após a posse, Pedra Branca retorna à Europa, para completar a educação da filha, que já estava prometida a Miguel Calmon, depois Marquês de Abrantes, - gabando-se também Barbacena da possibilidade do matrimônio com seu filho. Porém nem sempre os filhos fazem como os pais desejam ou esperam, tendo a prendada Yaiá se casado com o Visconde de Barral, a 19 de abril de 1837.
Pedra Branca no fim desta estada na Europa, voltava-se para a Bahia, planejava a criação de um maquinismo entre 1836/37, que pudesse subir e descer a montanha com uma linha de ônibus na cidade alta e outra na baixa, conduzindo pessoas ; ( estas idéias, pioneiras foi depois o que conhecemos como Plano Inclinado, no lugar do antigo Guindaste dos Padres. Ganhou com isso privilégio, e iria requerer da Assembléia Provincial, prorrogação do prazo, pois diligenciava financiamento e planos técnicos na Europa para o investimento que pretendia. Este Plano Inclinado que escapou de chamar-se “Princesa Isabel”, em virtude da queda da Monarquia, com justiça poderia chamar-se “Visconde da Pedra Branca”, como sugere merecidamente Wanderley Pinho.
No seu Engenho, com a esposa já falecida e com sua filha casada, envelheceria lentamente Pedra Branca.
As velhas poesias lhe recobrariam sua vida bem vivida, sem sobressaltos, mas honrada e repleta de feitos digno de um patriota.
Foi nesta época, influenciado por Mello Moraes, que o convenceu de publicar o que faltava da primeira edição, de “Os Túmulos”, que sairia em definitivo da livraria Poggetti, em 1850.
Foi patrono do jornal “A Época Literária”, que circulou na Bahia de 1849 a 1850.
Durante sua permanência na França, no fim de sua carreira política, Domingos publicou também dois livrinhos de poesias que oferecia às senhoras brasileiras por um baiano - Tomo I e tomo II datados de Paris, 1825. Hoje são estes livrinhos raríssimos e sem autoria declarada o que dificulta a sua catalogação. A Biblioteca Nacional não os possui, encontramo-lo no Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro com fácil identificação de autoria de Domingos Borges de Barros “O baiano” é o mesmo B..., Borges de Barros, inicial dos dois nomes de família, forma como assinou o dicionário bem como, os artigos de, “o patriota”.
Pedra Branca tinha os sentimentos mais nobres, e quisera reconhecer o filho, que tivera antes das núpcias, mas no testamento não o chama “filho”, com o escrúpulo de não fazê-lo participar da fortuna, senão de alguns legados, pois a riqueza era principalmente de sua mulher e deveria caber apenas à filha; daí um processo de reivindicação que Pedra Branca queria justamente evitar, entretanto, após sua morte houve uma ação e petição de herança requerida por seu filho Alexandre Sebastião Borges de Barros, contra o Conde e a Condessa de Barral etc.,
na Bahia em 1858, volume de 220 págs. (publicação judiciária, para a relação da Bahia).
Com os seus escravos foi terno e carinhoso. No seu testamento declarou que libertaria todos os seus bons escravos, segundo os seus princípios se apenas dependesse da sua vontade, porém libertou alguns e de outros faz legados, conforme testemunho da época.”Nas propriedades que visitei, tive ocasião de verificar que havia senhores duríssimos para com seus escravos e outros que eram antes escravos dos seus escravos". Entre estes últimos, devo citar o Visconde da Pedra Branca, pai da Sra. Viscondessa de Barral, que exerceu durante muito tempo funções diplomáticas em Paris. Este bom e amável velho só vive para seus escravos e apenas não vive com sua filha em Paris com receio de que sejam maltratados. Seus escravos começam a trabalhar às 9 horas da manhã e largam os serviços às 15 horas. Cada um deles possui uma porção de terras que escolhe onde quer e que cultiva quando e como bem entende. Cada um tem um cavalo, alguns possuem até mais de um, que alugam ao seu senhor. Possuem também bois, carneiros etc., além do cuidado do senhor com a saúde deles. Toda mulher escrava que tem um certo número de filhos, recebe a sua carta de alforria.

Outro fato também digno de citação é a respeito da dívida que o Visconde da Pedra Branca tinha com o Convento do Desterro.
Em 1748, o Coronel Sebastião Borges de Barros, hipotecou o Engenho de São Pedro, tomando ao Desterro como empréstimo, a quantia de 2:400$000. A dívida ficou sem pagamentos até 1761, quando foi registrada nova escritura e pagaram-se os juros. Falecendo o devedor, a quantia emprestada passou a responsabilidade do irmão do primeiro mutuário, Domingos Borges de Barros; em 1789, moviam-lhe execução e, em 1806 realizaram pagamentos em caixas de açúcar branco e mascavo. Em 1838 ainda pagavam os juros e o principal; nesta época o responsável era o Visconde da Pedra Branca, Domingos Borges de Barros, ainda proprietário do Engenho, que remiu suas dívidas com o perdão dos juros. O Engenho de São Pedro esteve hipotecado durante 97 anos, a uma mesma família.

Engenho São Pedro em dia de festa

O Engenho de São João, também de responsabilidade do Visconde da Pedra Branca, hipotecado em 1805, teve como devedor original Manuel Ferreira de Andrade, herança de sua viúva, D. Maria do Carmo de Gouveia Portugal de Andrade, casada em segundas núpcias com o Visconde. O principal de 1:400$000 foi pago em 1845, tendo sido perdoado os juros por conveniência do Desterro, que desejava receber de pronto o capital.

Salientamos, entretanto, que muitos eram os engenhos hipotecados ao Desterro, conforme documentos da época.
Era então Abadessa a me. Ana Francisca de São José (1841-1844), quando, Clara do Desterro. Dessa vez a Abadessa agiu pessoalmente de forma epistolar, tentando convencer aos devedores o cumprimento de suas obrigações. São extensas as correspondências encontradas, assinadas pelos representantes de velhas famílias, alguns responsáveis por antigas dívidas, outros de débitos mais recentes, mas todos anteriores a 1818.
Do Visconde da Pedra Branca, por exemplo, existem duas cartas datadas de 1841 e 1842. A primeira do Engenho de São João, afirmava:
“Minha vida, por desgraça errante, fez com que meus bens fossem por largo tempo entregues a mãos alheias, e por descuido ou negligência dos que administravam, e dos que deviam ser exigentes para com eles, amontoavam-se os juros da dívida do Imperial Mosteiro que me vim achar mau pagador, sem o saber. Não obstante a consciência das desgraças da nossa Província e maior ainda da nossa miserável lavoura, ao saber dos débitos fora pagando conforme podia”. Nas despedidas o Visconde mostrava-se surpreendido e magoado pelo tratamento que lhe dispensara a Abadessa : “Magoado com tão inesperado quanto desusado rigor, da parte de pessoa tanto do meu respeito, e de quem esperava melhor tratamento, resta-me a resignação”. Concluía afirmando que apesar da estação mesquinha, faria, não tanto quanto desejava, mas o que podia, para provar seu grande empenho em pagar as dívidas.
A segunda carta, do Engenho São Pedro, era mais realista, demonstrava a dificuldade em resgatar as dívidas, embora com a melhor das intenções: “Porém o homem põe e Deus dispõe”, informando que trabalhara até quando havia aguentado as suas forças, mas uma seca, seguida de uma praga de lagartos, baldou todas as suas esperanças, destruíram-se as plantações e com elas as safras do ano passado. Até aquele momento, um dos seus Engenhos não dera início a moagem. Embora esperasse na força do céu, sofria o desprazer de adiar seu empenho, e nem sabia o que fazer no ano presente, (1842) diante dos rigores que atingiam a lavoura, que nem chegavam para o sustento da fábrica. Nesta franca exposição dos seus dissabores, a Abadessa veria o seu sentimento, achando que não seria mais preciso lembrar-lhe o que tinha tão presente na memória, por dever e gosto, de concorrer para o desempenho de suas obrigações, para com a boa e sábia administração do triênio da me. Ana Francisca de São José. Se na primeira carta Pedra Branca mostrava a altivez de quem ignorava a situação das dificuldades da lavoura de cana de açúcar, na segunda era mais objetivo e demonstrava já estar incluído no contexto de outros lavradores e senhores de engenho, que lutavam com desespero, para reerguerem a situação de grave desequilíbrio observada na Bahia, pela falta de capital e pequeno esforço de trabalho, contando muitas vezes com as condições adversas do clima.

No dia 20 de março de 1855, falece Domingos Borges de Barros, poeta e estadista, que sempre soube honrar as letras e soube bem servir à pátria, prestando-lhe os mais assinalados serviços, quer no Parlamento onde sua atividade foi brilhante e profícua, quer no estrangeiro, onde, por várias vezes, representou os interesses do Brasil, sempre com inexcedível atitude. Guarda-lhe a pátria por estes feitos, o nome venerando que se acha inscrito entre um dos maiores brasileiros.

Obras:
- Dicionário Francês - Português/ Português - Francês
Paris - 1812 (Obra sem mencionar seu nome).

- Os Túmulos - Poema filosófico e romântico
Paris - 1826.

- Ode ao Conde dos Arcos (Borges de Barros foi colaborador do Patriota).

- Memória sobre plantação de Uruçu.

- Memória sobre o café, sua história cultura e amanho.

- Memórias sobre os muros de apoio ou muros que servem para sustentar a terra.

- Memórias sobre os meios de desaguar ou esgotar as terras inundadas ou encharcadas por método fácil e pouco dispendioso.

- Vantagem da vida campestre ( em resposta à carta em que de Lisboa se despediu, devendo partir para a Bahia, escritas em Paris em 02 de maio de 1806. É uma poesia em verso heróico.
*Vide poemas de Domingos Borges de Barros na II Parte do trabalho -

Demais descendentes

4.(1)

1- Estevão Borges de Barros

Filho do Capitão – mor, Estevão Borges de Barros e D. Eugênia da Cunha, neto paterno do Capitão João Borges de Macedo e D. Maria de Barros e materno de Pedro Ferreira, natural de Pernambuco e Bárbara da Cunha, natural da freguesia do Monte, na Bahia. Foi batizado na Capela de Bom Jesus, filial da Matriz do Monte, a 17 de agosto de 1715, madrinha a irmã Catarina da Penha (também omitida no texto). Estevão de Barros é o senhor do engenho de Madre de Deus, mencionado por Gregório de Matos, Graciosa (Obras, III),XXVII.
Nos livros da Santa Casa se lê que, em 1723, tomou de empréstimo 2 contos de réis, dívida pela qual foi executado o fiador, José Pereira Sodré, (A. J. Damázio, Tombamento etc. p.145).

4.(1)

3- D. Roza de Barros

Filha do Capitão-mor Estevão Borges de Barros e de D. Eugenia de Jesus Barbosa, Casou-se no dia 26/05/1730 na Capela de N. S. do Monte do Carmo, com D. Manoel José de Bitencourt e Sá, natural da Freguesia de Traripe, filho legítimo de D. Felix de Bitencourt e Sá com D. Catarina de Aragão e Ayala, e teve os seguintes filhos: a) D. José Felipe de Betencourt e Sá b) D.Luiz de Betencourt e Sá c) D. Ursula d) D. Catarina.

4.(1)

4- O Sargento-Mor Antonio Borges de Barros

Casado com D. Anna Pereira Marinho , viúva de Pedro Dias, sem filhos. O casamento realizou-se em S. Gonçalo da Vila de S. Francisco, a 09 de janeiro de 1757.
Donos do Engenho Limoeiro, vendido em 1763 ao Capitão Pedro Correia Soares por 24000 cruzados, tratando-se pois de um engenho pequeno. Aos 30 de junho de 1858, o engenho "limoeiro" foi registrado por Luis Francisco Gonçalves Junqueira, acrescentando ele que o comprou ao finado Pedro Correia Soares.

4.(1)

5- Francisco

4.(1)

6- O Padre Miguel Thomaz

4.(1)

7- João Borges de Barros
Itálico
Capuxo, chamado Frei Estevão da Soledade.

8.(2)

Antonio Borges de Barros - Filho legítimo de Domingos Borges de Barros e de sua mulher Dona Maria de Araújo, batizado a 21 de fevereiro de 1719 e que faleceu criança.
8.(2)

1- Sebastião Borges de Barros (3)

Foi Coronel e capitão-mor na freguesia de N. Sra. da Purificação de Sergipe do Conde, morava na freguesia de S. Pedro do Rio Fundo, Capitão de Ordenança, Casou-se no dia 27 de agosto de 1746 com D. Antonia Francisca de Aragão, filha de D. Felix de Bitencourt e Sá com D. Catarina de Aragão e Ayala.
Em 1710 era dele o Engenho São Brás um dos maiores da região da Patatiba, tendo sido penhorado por 811.290 réis por dívidas antigas ligadas a fabricação de cachaça, arrematado por Cristovão da Rocha Pitta, em 1757.
Teve licença para receber o hábito de noviço da Ordem de Cristo em 1733, e nela entrou em 1734. Poeta autor de sonetos no mausoléu do abade Manuel de Matos Botelho, irmão do Arcebispo da Bahia, que foi publicado em Lisboa no ano de 1754. Pertenceu à Academia Brasílica dos Renascidos. E foi por último membro da Mesa de Inspeção da Bahia. Tornou-se desde 09 de abril de 1724 irmão da Santa Casa.

* Vide poema de Sebastião Borges de Barros na II Parte do trabalho.

1.(3)

1- José Borges de Barros
Itálico
Filho natural de Sebastião Borges de Barros e de D. Antonia Francisca de Aragão, que em 1797 pediu carta de legitimação, (Anais da B.N., v.36.p.741 doc. 18.858) merece que o incluamos entre os precursores da Independência por ter sido talvez o principal e oculto personagem da conspiração ocorrida na Bahia em 1797. A princípio sua participação não foi notada, entretanto em 1802 o magistrado incumbido de apurar as culpas maçônicas de Hipólito José da Costa (Arq. do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro), declarou o envolvimento de José Borges de Barros.
8.(2)

2- João Borges de Barros

Nasceu no Engenho de S. Pedro de Traripe, Termo de Santo Amaro, Vila da Purificação, Arcebispado da Bahia a 16 de Abril de 1706, filho do Coronel Domingos Borges de Barros e de D. Maria de Araújo Azevedo.
Estudou no Colégio dos Jesuítas da Bahia o curso de Artes e de Cânone na Universidade de Coimbra em 1731. De volta à Bahia foi primeiro desembargador Numerário da Relação Eclesiástica em 1755, Tesoureiro- Mor e Deão da Catedral da Sé na Bahia e repetidas vezes visitador desta cidade, e ex-Governador do Arcebispado.
Em 1751 com 44 anos de idade, morava na Freguesia da Sé, em processo de habilitação a Ordem de Cristo.
Autor da Relação das honras fúnebres, em memória do Senhor D. João V, que consagrou a cidade da Bahia - Lisboa 1753 - também poeta, figurou na cadeira no. 12 da Academia Basílica dos Renascidos.
* Vide poemas de João Borges de Barros na II Parte do trabalho
8.(2)

3- Domingos Borges de Barros (4)

Filho do Coronel Domingos Borges de Barros com D. Maria de Araújo Azevedo, casou-se com D. Florência Moreira de Almeida, já viúva de João Domingos do Passo, sendo que desta união não teve sucessão.
Cavalheiro Professo da Ordem de Cristo, irmão da Santa Casa da Bahia em 18 de março de 1731, Ajudante de Ordem do Governador, Patente de Sargento - Mor em 1756 e posteriormente, Capitão de infantaria com exercício de Ordens. Morreu em 22 de Setembro de 1757 e a viúva Florência Moreira de Almeida em 20 de Janeiro de 1788 .
8.(2)

4-Luiz Antonio Borges de Barros

Como seu irmão, cônego de meia prebenda em 23 de fevereiro de 1731, prebenda inteira em 10 de agosto de 1752, ( Torre do Tombo ), doou a 22 de julho de 1769, os serviços do Capitão Sebastião Borges de Barros ao sobrinho Francisco Borges de Barros. Irmão da Misericórdia em 1763, veio a falecer no dia 09 de setembro de 1783.

Antes de falecer deixou seu testamento, como se segue:

“Eu Padre Luiz Antonio Borges de Barros, Cônego na Sé desta cidade da Bahia e Natural da Freguesia de Nossa Senhora da Purificação da Villa de Santo Amaro deste Arcebispado filho legítimo do Coronel Domingos Borges de Barros e de sua mulher D. Maria de Araújo Azevedo já defuntos e estando eu doente de cama, mas em meu perfeito juízo, a Deos Nosso Senhor foi servido dar-me, e querendo com tempo testar pela minha alma, e dispor de meuz benz, ordeno este meu testamento na forma seguinte.
Primeiramente encomendo a minha alma a Santíssima Trindade, a Cristo Nosso Senhor a Beatíssima Virgem Maria, Senhora Nossa, ao anjo da minha guarda e aos Santos meus advogados de minha especial devoção.
Peço e logo em primeiro lugar nomeyo por meuz Testamenteiros a meu sobrinho Sargento - Mor Francisco Borges de Barros, juntamente com sua mulher D. Clara de Santa Rita ambos em um corpo.
Em segundo lugar a meu sobrinho e Compadre o Capitão - Mor Salvador Borges de Barros, em terceiro lugar ao Reverendo Senhor Deâm da Sé nesta cidade o Senhor Manoel de Almeida Maciel”.
Junto ao Testamento de Luiz Antonio Borges de Barros, encontra-se uma declaração de débito do seu irmão João Borges de Barros conforme abaixo:

“Devo a meo yrmão o Snr. R. do Conego Luiz Antonio Borges de Barros Setecentos e Cinquenta Mil Reiz que me emprestou em dinheiro.”


8.(2)

5- José e Antonio

Faleceram meninos.

8.(2)

6- Salvador Borges de Barros (5)

Filho do Coronel Domingos Borges de Barros, quando solteiro, com D. Brites de Brito Faria. (bastardo)
Salvador Borges de Barros casou-se com D. Tereza Angélica de Meirelles, filha de Custódio de Meirelles Machado e de D. Florência. Foi Capitão de Companhia em 08 de Setembro de 1719.


6 .(5)

1- Frei Domingos de Santa Thereza

Religioso Franciscano vestiu o hábito em 1744, pregador e Comissário de Terceiros de São Cristóvão em 1766. Residente em São Francisco do Conde em 1669 e faleceu em 1782.

- Arquivo Provincial dos Franciscanos no Recife c.m. de Frei Venâncio Willeke

6.(5)

2- João Borges de Barros

3- José Borges de Barros

4- Custodio Borges
5- Floriano Xavier

Todos Sacerdotes Seculares.

6.(5)

6- D. Mairana Thereza do Salvador

Casou-se com Pedro Moreira, e faleceu sem filhos.

6.(5)

7- Joana Clara Paraíso

Solteira.

6.(5)

8- Inácio Borges de Barros


Inácio Borges de Barros


“Aos treze do mês de outubro de mil oitocentos e quatro batizou solenemente de licença minha no Oratório particular aprovado do Engenho Jacuípe, freguesia de São Pedro do Rio Fundo o Rvdo. José Xavier de Almeida, sacerdote secular, a Inácio, párvulo, filho legítimo de Salvador Borges de Barros e de sua mulher D. Maria Rosa de Lima , moradores na dita Freguesia do Rio Fundo. Foram padrinhos Tomé Moreira de Pinho, casado , e, D. Josefa Mariana de Lima, viúva, moradores na dita Freguesia do Rio Fundo. Para constar fiz este assento que assinei (assinado) o Vigário Teotônio Simões Lopes Machado. Nada mais consta “Câmara Eclesiástica da Bahia, 19 de maio de 1942.(assinado) Padre Moysés Pinho Santos, subsecretário”.
Antonio Bulcão Sobrinho - Titulares Baianos
Carlos G. Rheingantz - Titulares do Império
Em 18.04.1859 registrou o engenho São Brás herança da sua 1ª esposa.

O Coronel Inácio Borges de Barros, casou-se com D. Maria Rosa Moreira Pinho, filha de Antonio Joaquim Moreira de Pinho e, em segundas núpcias, com D. Rosa Maria de Araújo Gomes de Sá , filha de Antonio Gomes de Sá com sua prima Antonia Gomes de Sá Queiroz.
Recebeu o título de Barão do Rio Fundo em 02 de setembro de 1859, faleceu na cidade de Santo Amaro, na Bahia em 20 de março de 1870, deixando muitos filhos.

1.(7)

1- Antonio Joaquim Borges de Barros (8)

Casado com D. Maria Josephina Basto Borges de Barros, um dos herdeiros dos engenhos timbó e carapiá. Pais do historiador e Diretor do Arquivo Público, Francisco Borges de Barros e de Frederico Basto Borges de Barros (adiante).

1.(7)

2- Maria Cândida de Pinho Borges de Barros

1.(7)

3- Thereza de Pinho Borges de Barros

Batizada aos 04 de Maio de 1856, na Capela do Engenho de São Brás, com idade de três meses. Herdeira do Engenho São Brás (1870)

1.(7)

4- Inácio Borges de Barros

Batizado em 01 de Janeiro de 1855 na Capela do Engenho São Brás com idade de cinco meses, pelo Reverendo Frei José da Santíssima Trindade, filho legítimo de Inácio Borges de Barros e Dona Maria Rosa de Araújo Pinho.
Também foi herdeiro do Engenho Carápia.
1.(7)
5- D. Luiza de Pinho Borges de Barros

Herdeira do Engenho Timbó e do São Brás (1870)
1.(7)

6- D. Rosa Borges de Barros

Herdeira do Engenho Buraco.

1.(7)

7- Bel. Salvador Borges de Barros

Herdou com os irmãos Antonio Joaquim e Inácio o engenho carápia, também herdou o engenho timbó com D. Luiza e com Antonio Joaquim.


1.(7)

8- D. Anna Borges de Oliveira Mendes

Também herdou o Engenho Buraco.

1.(7)

9- D. Inacia Borges de Oliveira Mendes

Herdou o Engenho Buraco, juntamente com suas irmãs.

1.(7)

10- Raimunda Borges de Barros

Herdou o Engenho São Brás

8.(6)

2- D. Mariana Josefa de Lima (9)

Casada em 20 de junho 1796, com o Capitão João Ferreira de Moura, filho de Manuel Dias de Leão e D. Serafina Ferreira da Encarnação.
E teve filhos:

2.(9)

1- Capitão Antonio joaquim Ferreira de Moura

Casado com D. Maria Luiza da Costa Pinto (1801 a 1875), filha do Capitão Antonio da Costa Pinto e D. Mariana Joaquina de Jesus. São os pais do conselheiro João Ferreira de Moura (1830 a 1912), Deputado geral, Ministro da Justiça, da Marinha e da Agricultura no Império.

2.(9)

2- D. Rosa Josefa de Lima

Casada com Tomé Moreira de Pinho.
2.(9)

3- D. Maria Joaquina (1831 a 1902) (10)

Mulher do tio materno Manuel Lopes da Costa Pinto, Visconde de Aramaré.
3.(10)

1- Antonio Joaquim da Costa Pinto (1850 a 1904)

Fundador em 1882 da Usina Carápia, casado com Maria das Mercês, irmã do Governador Araújo Pinho.
3.(10)

2- Maria do Carmo (1855 a 1933)

Mulher de João dos Reis de Souza Dantas Filho, sobrinho do Conselheiro Dantas.
3.(10)

3- Júlia da Costa Pinto (1871 a 1935)

Casada com Antonio da Costa Pinto (1867 a 1894), e em novas núpcias com o cunhado Artur (1868 a 1936), ambos os filhos do Visconde de Oliveira.

2.(9)

3- D. Maria Leopoldina

Mulher de Alexandre Moreira de Pinho.

8.(6)

3- D. Rosa Maria de Lima (11)

Casou-se com o coronel Tomé Moreira de Pinho seu primo, fidalgo da Casa Imperial, pais do capitão Francisco Moreira de Pinho que casou com a prima Ana Joaquina de Pinho Calmon.

8.(6)

4- D. Ana Joaquina de Lima Borges de Barros

Filha legítima de Salvador Borges de Barros e de D. Rosa Maria de Lima Moreira de Pinho, casada com D. Pedro Felix da Câmara de Bitencourt e Sá, nascido na freguesia de N.Sra. do Monte recôncavo da atual S. Francisco do Conde, em 25 de setembro de 1797.

3.(11)

1- D. Rita Calmon de Pinho

Mulher do primo, Estevão da Câmara Betencourt e Sá, filho de D. Antonio de Betencourt e Sá e D. Ana Moreira de Pinho.
3.(11)

2- Alexandre Moreira de Pinho

Senhor do Engenho Buraco, casado com D. Maria Leopoldina.

3.(11)


3- D. Ana Joaquina de Lima Barros

Casada com D. Antonio Felix da Câmara de Bitencourt e Sá, nascido na freguesia de Nossa Senhora do Monte reconcavo, na atual cidade de S. Francisco do Conde, em 17 de julho de 1798.

3.(4)

1- Francisco Borges de Barros (12)

Filho de Domingos Borges de Barros e de D. Florência M. de Almeida, durante muito tempo fez companhia ao Deão da Sé João Borges de Barros, seu tio.
Foi Sargento - Mor, Senhor do Engenho de São Pedro na Freguesia do Rio Fundo Comarca de Santo Amaro da Purificação.
Posteriormente sua mãe casou-se com Cláudio Pereira da Silva, e foram moradores na Vila de Sergipe do Conde, Florência foi filha de uma irmã da mãe dos religiosos menores, Frei Manoel da Conceição e Frei Agostinho.
Francisco Borges de Barros casou-se com D. Luiza Clara de Santa Rita e deste matrimônio tiveram filhos.
Também atuou como Juíz Ordinário de Santo Amaro, casou segunda vez com D.Tereza Rosa do Salvador Borges, diz o registro de , falecida a 13 de outubro de 1804. Faleceu ele a 08 de junho de 1819.

1.(12)

1- Francisco Borges de Barros

Foi casado com uma mulher mulata, teve doze filhos e na condição de alferes participou na campanha da Independência.

1.(12)

2- Rosa Tereza do Salvador

Religiosa residente no Desterro, com número 204 e com ingresso em 1807, natural da Vila de Santo Amaro e Batizada na Freguesia de N. Sra. da Purificação, sua mãe foi D. Tereza Rosa do Salvador Borges, quando do seu ingresso no desterro, o Arcebispo era D. José de Santa Escolástica.

1.(12)

3- Maria Francisco de Jesus

Também religiosa residente no desterro, com número 205, ingressando no mesmo ano de sua irmã (1807), com 17 anos de idade, sua mãe chamava-se D. Teresa Rosa do Salvador Borges. Falecendo em 1866 aos 76 anos, serviu a Deus durante 59 anos.

1.(12)

4- João Borges de Barros

Filhos de João Borges de Macedo

1 - O Dr. José Borges de Barros


Nasceu na cidade da Bahia a 18 de março de 1657, estudou no Colégio dos Jesuítas da Bahia e tinha como meta ingressar na Companhia de Jesus, já havendo inclusive, feito estudos e se alistado nessa companhia em sua pátria, deixando-a em virtude do seu estado físico não lhe permitir a observância dos preceitos dela e então, se dirigindo para a Universidade de Coimbra recebeu o Grau de mestre em artes e bacharelou-se em cânones de 1683 a 1697. Na terra natal foi Cônego, mestre-escola da Catedral da Sé, Desembargador das Relações Eclesiásticas, Vigário Geral e Juiz de Resíduos. Tornando a Portugal, serviu em Coimbra ocupando no Bispado os lugares de Provisor e Vigário Geral, Prior de Almedina e também Provisor e Vigário Geral em Évora, chegando a ser indicado Arcebispo de Goa, recolhendo-se, porém, ao oratório de S. Felipe Neri para novamente tentar a vida monástica. Além desta bela carreira eclesiástica foi lente de Filosofia e de Teologia, exímio pregador, rival do célebre Pico de Mirandola.

- Sermão vários 2 tomos in - 4o.
- Tratado prático dos materiais heraficiais, in - 4o.
- Arte de memória ilustrada
Nota:. Manuel Vieira de Barros engana-se Frei Jaboatão era cunhado e não filho de João Borges de Macedo. Lê-se no processo de habilitação a Ordem de Cristo de Domingos Borges de Barros o licenciado Manuel Vieira de Barros irmão inteiro de sua mãe o beneditino Frei João Vieira foi clérigo pároco 14 anos em Ilhéus e Sergipe e chegou a meia plebenda, cônego e Tesoureiro-mór da sé da Bahia. Também foi vigário de Vitória diz o Dr. Gonçalo Soares da França, dissertação 1a. e 2a. parte de sua história eclesiástica apresentada em 1724.

2 - Maria de Barros

Batizada a 19 de setembro de 1658, faleceu solteira.

3 - Salvador Borges de Barros

Batizado a 29 de agosto de 1660.

4 - O Capitão Estevão de Barros (1)

Batizado a 1o. de janeiro de 1662. Casou com Eugenia da Cunha , que era filha de Pedro Ferreira, Alferes, teve reformação geral a 15 de dezembro de 1663, na Bahia, natural da Vila de Serinhaen, bispado de Pernambuco com D. Bárbara da Cunha, natural da freguesia do Monte, na Bahia.

5 - Dr. João Borges de Barros

Batizado a 22 de janeiro de 1666, foi cura da Sé na Bahia e desembargador das Relações Eclesiástica, bacharelou-se em cânone na Universidade de Coimbra em 1690. faleceu a 09 de setembro de 1735
6 - Manoel Borges de Barros

Batizado a 05 de março de 1667.

7 - Madre Maria da Soledade

Nasceu na Bahia, Freguesia da Santa Sé, no dia 24 de agosto de 1668; Foi batizada na Catedral no dia 08 de setembro do mesmo ano, chamou-se Maria por ser a data do batismo o dia do nascimento da mãe de Jesus.
Após seu ingresso no Desterro, nunca mais falou com seus irmãos e parentes, nem com nenhuma outra pessoa de fora da instituição, apenas se dirigia ao parlatório duas vezes ao ano, para falar com sua mãe. Foi incansável no exercício de ouvir missas e durante a realização dos atos religiosos, ficava a orar imóvel, escutando atenciosamente o que dizia o Padre; Do mesmo modo assistia ao Ofício Divino, de tal sorte que durante 32 anos nunca faltou ao choro (1), nem a ato algum, excluindo-se os três dias que precederam a sua morte.
Algumas vezes demonstrava desejo de morrer, dizendo: “Se não fora ofensa a Deus, tomar a criatura à morte por suas próprias mãos, tomaria ela pela grande vontade que tenho de morrer, de que sirvo neste mundo para desejar vida?”. Esta forma de falar, segundo as irmãs, era porque queria encontrar-se e servir melhor a Deus.
Em outra ocasião no término de uma reforma em seus aposentos, recebeu proveniente de Portugal, um Sacrário de Prata (2) que ofereceu ao Desterro, guardando segredo, para não levantar a suspeita de ter sido sua aquela oferta; apenas duas Irmãs tinham o conhecimento de que o Sacrário pertencia a Madre Maria, porém foram por sua vez solicitadas a nada divulgarem a respeito.
Estando diante do Santíssimo Sacramento, nada temia, e dois relatos curiosos, marcaram sua inabalável fé:
Estando como de costume orando em seu canto, junto à grade do choro em companhia de outra religiosa que a acompanhava nas orações, ouviram um ruído ou estrondo que vinha da direção do Mirante, como que caindo algo; disse-lhe a outra com grande pavor que seriam pedras, abraçou-se à Madre Maria e trêmula começou a gritar; para evitar que a ouvissem, tentou acalmar a companheira, dizendo-lhe que não tinha sido nada, porém a religiosa veio a desmaiar, Madre Maria puxou- a para fora do choro e esteve com ela até o retorno completo da sua lucidez.
Recomendou Madre Maria, que a companheira nada comentasse a respeito, pois não tinha sido nada.
Em outra ocasião, estava orando juntamente com outras religiosas, ouviu-se também um outro estrondo, desta vez parecia que o Mirante estava desabando e com o estrondo também se ouviu cavalos rincharem, rosnar de porcos, uivos de cachorros e vozes; ruídos estes não só ouvido pelas que estavam no choro mas pelas que estavam de fora, e que logo correram para o local, encontrando-se com as Irmãs que estavam no choro e que saíram igualmente correndo. A Madre Maria, conforme se comentou, pareceu vir pelos ares, caindo pela escadaria abaixo, se estendendo no chão como morta; foi bastante pisada pelas outras, porém nada sofreu. Diziam as irmãs que teria sido o inimigo comum mas a Madre Maria guardou inteiro silêncio sobre o assunto, inclusive se algo mais ocorrera, pois retornou ao local para continuar as orações abruptamente interrompidas.
Em uma Sexta-feira, 27 de outubro de 1719, estava Madre Maria da Soledade, gravemente enferma, já tinha feito várias sangrias, tendo sido este tratamento inútil, e como a Prelada a visse com tanta vontade de ir ao choro, apesar do seu estado de saúde, foi-lhe permitido; e rezou com a mesma devoção e espírito, lá se detendo longo tempo, motivo pelo qual foi chamada a atenção por uma das religiosas. Respondendo-lhe que tinha ido despedir-se do Senhor Sacramentado.
Na Segunda - feira, terceiro dia do agravamento da doença e último de sua vida, pediu que as religiosas lhe fizessem uma cama no chão, e que lhe descem o seu manto para cobrir-se, pedia constantemente água, pois dizia sentir alívio quando bebia.
Sua morte, ocorreu naquele mesmo dia, às dez horas da noite, 30 de outubro de 1719, tendo de idade cinquenta e um anos, dois meses e seis dias, e de hábito trinta e dois anos, oito meses e vinte e oito dias.
Faleceu de forma tranquila, como se estivesse a dormir, seu corpo foi transferido para a Capelinha do Senhor dos Passos onde esteve durante aquela noite, no esquife tinha o semblante tão agradável que parecia estar viva, tal a extraordinária formosura de que se achava revestida.

(1) Choro - Local apropriado para orações e meditações.

(2) Sacrário de prata - Peça que se encontra no Convento do Desterro, doado pela Sóror Maria da Soledade, que com recursos próprios e esmolas mandou fazer em Portugal a preciosa peça, que conta aproximadamente 300 anos.

8 - Coronel Domingos Borges de Barros (2)

Batizado a 26 de maio de 1670, soldado pago nas portas de São Bento, serviu de 7 de dezembro de 1694 a 12 de agosto de 1701.
Foi nomeado através de Carta Patente em 05 de maio de 1701, Coronel do Regimento do Sertão que compreende os Distritos de Maçacará, Rio Verde Grande, Jeremoabo até Paramirim. Por possuir ele, todas as qualidades inclusive pela satisfação evidenciada com que serviu a S. Majestade nesta praça, com qualificação de soldado da Companhia do Mestre de Campo Antonio de Barros, exercendo também o posto de Tenente do Castelo de N. Sra. da Encarnação com pontual cumprimento de suas obrigações pelo período de quase sete anos bem como, pelo fato de ser filho do Capitão João Borges de Macedo se constituíram prerrogativas para uma bela carreira.
Não conseguiu, entretanto o ingresso na Ordem de Cristo, por não se saber a naturalidade do avô materno e da avó paterna, e ainda por ter sido armador e pintor o avô paternoTeve sesmaria de uma légua em quadra em Maragogipe, 1º. De Outubro de 1708. e afazendava no Rio Vermelho, como lembra na poesia descritiva o seu amigo Gregório de Matos, Graciosa, III, pp. 198-206. Fez o Engenho de Camorogi e Gregório de Matos fala de sua rica produção.
Casou-se com D. Maria de Araújo , filha de Luiz Ferreira de Araújo, que já era viúva do Coronel Francisco de Brito Barbosa, pessoa de principal nobreza desta cidade foi Coronel de Ordenança de Jaguaripe, Itaparica e Capanema, do qual teve uma filha cujo o nome era D. Thereza Maria de Brito, que por sua vez casou-se com José Sodré Pereira, filho do mestre de Campo Jerônimo Sodré Pereira e de D. Francisca de Aragão, e por morte de José Sodré Pereira, que o mataram, foi acusada de mandante do crime juntamente com dois mulatos a quem foi concedido livramento ordinário, e se recolheu D. Thereza no Desterro. (Anais cit., v.43, p. 21) Teve D. Thereza Maria de Brito três filhas com José Sodré Pereira:
Francisca Joaquina da Assunção nascida em 1722 foi para o Convento com 19 anos, Teresa Francisca de São José com 18 anos, ambas foram enclausuradas em 1741 e Ana Josefa dos Anjos nascida em 1728 e enclausurada em 1750, todas natural de São Bartolomeu de Maragogipe e batizadas na capela de N Sra do Livramento. No período era o arcebispo do Convento D. José Botelho de Matos.
No registro da Santa Casa, 8 de julho de 1764: “ veio a notícia de que era falecida D. Maria de Araújo” que faleceu a 08 de novembro de 1762. O Coronel Domingos Borges de Barros, morreu a 27 de agosto de 1734.

Histórico Genealógico

ORÍGEM DA FAMÍLIA
A família Borges de Barros, surgiu na Bahia na metade do século XVII, quando da união do Capitão João Borges de Macedo com D. Maria de Barros.
O Capitão João Borges de Macedo filho de Domingos Borges e de Maria da Penha, ambos naturais de Domdurão - São Tomé das Lamas, Termo da Vila de Cadaval, Arcebispado de Lisboa; casou-se com D. Maria de Barros, filha de Salvador Vieira, sendo ele natural da Ribeira de Suas, Termo de Braga.
O Capitão João Borges de Macedo notabilizou-se a partir de 1634, quando serviu ao Reino de Portugal durante 17 anos efetivos, nos conflitos ocorridos nas Capitanias da Bahia e de Pernambuco contra os Holandeses, sendo os primeiros anos em terra, tendo posteriormente participado de campanhas marítimas.

Fr. Jaboatão, novo Orbe Seráfico, II , 3 parte.

CONTEXTO SOCIAL

Durante a primeira metade do século XVII, viveu a Região Nordeste do Brasil um período bastante tumultuado com as investidas dos Holandeses, que inconformados com a perda de lucros que obtinham no transporte, refinação e comercialização do açúcar brasileiro, tentavam reaver o mercado e restabelecer o comércio com a Europa.
Após o insucesso da invasão na Bahia, uma segunda expedição também preparada pela Companhia das Índias Ocidentais, empreendeu novo ataque no dia 13 de fevereiro de 1630, desta vez à Capitania de Pernambuco.
Apesar das inúmeras tentativas de defesa preparadas por Matias de Albuquerque, obstruindo o Porto e posicionando canhões ao longo das praias de Olinda, não foi possível evitar a segunda invasão dos Holandeses em terras brasileiras.
Entretanto, repetiram-se o ocorrido na Bahia em 1624, havendo bastante resistência, mediante guerrilhas sob o Comando Luso-Brasileiro de Henrique Dias, Martim Soares Moreno e Filipe Camarão que se concentraram a alguns quilômetros do Recife, no Arraial de Bom Jesus.

CAMPANHAS DE INFANTARIA

Foi durante esse período de resistências, que o Coronel João Borges de Macedo começou a atuar na infantaria, participando em diversas ocasiões de batalhas, principalmente na do Cabo de Santo Agostinho, na qual o inimigo compareceu fortemente armado.
Na do Porto Calvo, em que o Coronel foi ferido na perna esquerda por um projétil.
Na de Mata Redonda, onde foi derrotado a 18 de Janeiro de 1636, sob o comando do General D. Luiz de Rojas, que ao atacar o bosque onde se condensara o inimigo, na tentativa de envolvê-los, foi surpreendido juntamente com seus comandados tendo tombando o General espanhol aos primeiros tiros.
Na marcha que com 200 homens fez o Capitão Rabelinho, penetrando a campanha do inimigo por sessenta léguas.
Na de São Lourenço em 22 de Abril de 1636, quando acompanhou aos capitães até que se retirassem da Bahia. Procedendo, em todas estas ocasiões com conhecido valor, sem soldo ou dispêndio algum à Fazenda Real.

CAMPANHAS MARÍTIMAS

Os demais anos serviu o Capitão João Borges de Macedo no mar com bastante bravura, onde fez diferentes serviços a Sua Majestade. Com uma embarcação, acompanhando ao Conde da Torre D. Fernando Mascarenhas, Governador e Capitão General das armadas Reais, primeiro Português que durante a dominação castelhana teve o cargo de ambas as armadas, vencendo os Holandeses no Porto de Touros.
Voltando à Bahia, transportou por ordem do mesmo General, mantimentos e munições ao Mestre de Campo Luiz de Barbalho.
Foi incumbido pelo Marquez de Montalvão, D. Jorge Mascarenhas primeiro Vice Rei, a levar socorro aos Capitães Paulo da Cunha Souto e a André Vidal Negreiros, provocando transtornos e inquietação ao inimigo.
Na ocasião em que o mesmo Marquez de Montalvão, o mandou desalojar os Holandeses que estavam fortificados no Rio Real levando socorro em mantimentos e munições com grande risco de vida.
Em outras campanhas, foi incumbido pelo Governador e Capitão General Antonio Telles da Silva, a levar por diversas vezes mantimentos à infantaria que estava no Rio Real, e depois à Torre de Garcia D’ Ávila, os petrechos e outras cousas para a infantaria que marchava em direção do mesmo rio.
Por ordem do General Antonio Telles da Silva, foi a Pernambuco, de onde retornou com o Capitão Bartholomeu Aires, trazendo açúcar e escravos que pertenciam à Fazenda Real.
Assistiu o Capitão João Borges de Macedo, na Torre de Garcia D’ Ávilla, alertando as embarcações aliadas da presença do inimigo na Ilha de Itaparica, e retornando a Pernambuco, carregado com munição, no trajeto, foi perseguido pelo inimigo, refugiando-se em um rio após lutar todo um dia contra uma sumaca Holandesa, e estando o inimigo com dois ou três patachos, e vendo que não lhes podia resistir pôs fogo em tudo, tendo ficado ferido em uma perna.
Tornou logo após a Garcia D’Ávila, para esperar a Armada Real, em cuja capitania se incorporou.
Com 300 homens foi em socorro à Capitania de Pernambuco, retornando com o Capitão Zenóbio Achioly de Vasconcellos, trazendo as bandeiras conquistadas nas batalhas de Guararapes.

No Governo do General João Rodrigues de Vasconcelos “O Conde de Castelo”, que governou de 1650 a 1654, tendo sido o Capitão incumbido de levar mensagem a Portugal, e alguns dias depois estava de volta à Bahia.
Com sessenta homens, cumprindo ordens do Conde de Castelo, abordou um patacho Holandês que estava impedindo a entrada de embarcações com carregamento de farinha, no local conhecido como Baixo de S. Antonio, os soldados atemorizados lançaram-se ao mar e deixou desamparado o Capitão João Borges, juntamente com um irmão e alguns escravos, ficando o Capitão com muitos ferimentos mortais. Em consequência, foi o Capitão rendido e levado com sua caravela, ainda carregada com bastante fazenda originária de Lisboa para Recife, onde esteve um ano prisioneiro, e logo após este período, foi levado para a Holanda. (Anais do Arquivo Público da Bahia v.6 p.199. certidão de Bernardo Ravasco, 1686. ms. Arquivo Histórico Ultramarino)
D. Maria de Barros, companheira do Capitão João Borges de Macedo morreu viúva em 1695. (Livro 3o do Tombo do Mosteiro de São Bento, da Bahia)

Nota:.Na patente do filho Domingos Borges de Barros, enumeram-se os serviços de guerras de João Borges de Macedo desde 1634 em Pernambuco.

Da união deles, nasceram os seguintes filhos: