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quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Domingos Borges de Barros

1.(12)

5- Domingos Borges de Barros (13)


(Visconde da Pedra Branca) 1779 a 1855
Acervo do Itamaraty - óleo sobre tela, obra de Hermann Winterhalter, pintor da escola alemã.

Domingos Borges de Barros, filho do Capitão - mor Francisco Borges de Barros e de D. Luiza Clara de Santa Rita Borges, senhores do Engenho de São Pedro, na Freguesia do Rio Fundo, Comarca de Santo Amaro da Purificação, na depois Província da Bahia; nasceu a 10 de Dezembro de 1779.
Consta o batismo conforme segue:

“São Pedro do Rio Fundo - anos de 1777 a 1791 às Fls. 94 - Aos sete dias do mês de fevereiro de Mil Setecentos e Oitenta anos batizou de meu beneplácito o Reverendo Cônego Luiz Antonio Borges de Barros, na Capela de São Pedro, filial desta Matriz de São Pedro, e pôs os Santos óleos a Domingos Borges de Barros, filho legítimo do Sargento - mor Francisco Borges de Barros e de sua mulher D. Luiza Clara de Santa Rita, moradores do Engenho da dita Capela dos Borges.
O Vigário encomendado foi Francisco José da Silva Reis”.


Ruína da Matriz de São Pedro em Rio Fundo - foto de Roberto Borges (1997)

Fez os primeiros estudos na terra natal, depois o secundário em Portugal-Lisboa, no Colégio dos Nobres em 1792, matriculou-se na Universidade de Coimbra em 03 de Outubro de 1800, foi o estudante brasileiro de no. 512, no curso de filosofia - era então, Ciências Naturais, e formou-se em Bacharel, Licenciando-se a 06 de Julho de 1804.
Desde cedo teve interesse pelas letras, havendo nas suas obras tradução de versos de Parny, quando estava ainda no colégio em 1801.
Viveu alguns anos em Lisboa, onde se dedicou à Literatura, em convívio com Bocage, Filinto Elísio e José Agostinho de Macedo.
Fez inúmeras traduções do Grego, do Latim, do Francês, do Italiano... de Safo, Vergílio, Delille, Parny, Voltaire, La Fontaine e Metastasio. Em Paris 1806, ficou retirado e depois detido, quando da invasão Francesa na Península em 1808. Lá também na mesma situação estavam figuras importantes, como o Marquês de Marialva, os cientistas Corrêa da Serra e João Antonio Monteiro e o poeta Filinto Elísio. Havia também alguns brasileiros como sejam: o baiano Caetano Lopes de Moura que se encontrava desde 1803 na França, tendo acompanhado as tropas de Napoleão, na qualidade de cirurgião, José Antonio Soares de Souza que era estudante na Faculdade de Medicina de Paris etc.
Já em 1809, faz ao pai versos citando o horrível desterro e diz desalentado:


"Nunca mais vos verei, ó pai, ó pátria :
Sofra-se antes a morte, do que a infâmia
Dos déspotas, aos pés, curve a baixeza."
(I, 60)


Alusão a Napoleão que o retinha, em guerra com Portugal. Rico na sua terra chegou na França à necessidade.


"Em Paris, certo tempo sem ceitil ,
Vivia certo moço do Brasil .
Que deveo por um tempo a certo amigo
Mal de escaça mesada havia a soma"
(I , 88)

Como soubesse bem a língua Francesa escreveu um dicionário Português - Francês / Francês - Português, e que somente foi publicado em 1812, sem o nome do autor em dois volumes, trabalho de exílio para viver.
Sacramento Blake diz que, prontamente Balbi e outros afirmaram, desde logo como obra de sua autoria. Em seu livrinho de versos a amigos, datados de Paris, 1810, existe uma nota: “Fazia então o autor o Dicionário Francês - Português, um maldito dicionário” que justifica a nota à página 99 do Tomo I das “Poesias”. Portanto, não foi um trabalho feito com entusiasmo e gosto já que, a 19 de março de 1809, dia de são José, escreveu a um amigo devoto do santo:


"Senhor, quis de São José
Cantar o aniversário ,
Mas tem secado a Musá
Um maldito dicionário."

Poesias oferecidas às Senhoras brasileiras por um bahiano, Paris, Chez Aillaud Libraire, MDCCCXXV, t I pág. 99.
Quando o Dicionário foi publicado em 1812, já o autor não estava presente.
Em 1810, ocasião do casamento de Napoleão com Maria Luiza, aproveitando-se da paz com toda a Europa e contando com a indulgência do Imperador Francês, tirou proveito o poeta deste estado de espírito para fugir no brigue “Galeno” para os Estados Unidos, o que lhe inspira uma epigrama humorística:

"Em tão miserando estado
Pôs-me da Europa o terreno,
Que para tornar á pátria
Foi-me preciso um Galeno."
Em 1811, por uma tradução de Virgílio, sabe-se que estava no mar rumo a Nova York. a Márcia, a amada, diz, de Filadélfia, em 1811:

“Sim! inda existo, o peito inda me inflama”
(I,17)

Deve ser uma baiana, porque lhe chama “meu bem”, embora infidelidades triviais, “fazendo de conta”:

“Se amo de Nise os olhos, são teus olhos,
Se de Tirceu o corpo, são teus modos
Que nelas vendo adoro” .
(I,18)

É bem assim, porque numa “Ode à beleza”, a Mlle. B.., filha de Guadelupe, datada de Nova York, 1811.

Em roupas de manhà deixando o leito
Antes que o toucador te insulte encantos
Qual leda madrugada
Quasi despida, destoucada Venus,
Ante as rivais no Ida, se apresenta
E Páris não balança
Quanto mais nua, tanto mais agradas.
(I,20)
Em 1811 sai dos Estados Unidos com destino à Bahia, onde o prendem por suspeitarem ser ele um agente da França contra Portugal, “Jacobinismo”.
Estando preso na cadeia da Bahia, em 1811 faz um poema. “Conta que deixou pai, irmão, pátria... por climas estranhos, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Inglaterra, e dizia”:

“É crível, pode ser ! Ó Rei , ó Pátria
Os ferros oiço qu, annuncião crime”
(I, 112)
“Arrastar podem a inocencia aos cárceres”
(I, 113)
Em seguida outro poema “aos amigos”, estando o autor na Bahia preso a bordo do brigue “Tamerlão”, partindo para o Rio de Janeiro onde seria apurada sua culpa, e lá o puseram em liberdade.
No Rio colaborou com o jornal “O Patriota “(1813 - 1814), onde os artigos eram assinados B ... são de sua autoria. Os artigos versavam a respeito de Agronomia e Química.
Em 1813 publica no Rio, traduzido do Francês, 40 páginas, in -8o., na Imprensa Régia, o poema de Legouvé, do Instituto de França:
“O merecimento das mulheres”, poesias oferecidas às senhoras brasileiras por um baiano.
Declara o poeta que lendo a obra intitulada:
“Deduções philosoficas da desigualdade dos sexos e seus direitos políticos por natureza”, objeto de indicação às Cortes, em 1822, para que as mulheres pudessem votar, quis o autor aproveitar e publicar sua contribuição, deste poema traduzido. Teve aplauso da Marqueza de Alorna, da poetisa portuguesa Alcipe, então Condessa de Oyenhausen e outras. Borges de Barros sempre gostou e deu bastante valor às mulheres.
Casou-se, em 20 de maio de 1814, na Bahia, com D. Maria do Carmo de Gouvêa Portugal, 19 anos (ele com 35), ela já viúva do Coronel Manoel Ferreira de Andrade, ricamente dotada.
É a Marília dos seus versos, pequena transformação do primeiro nome. Em 1815 lhe nascia o primeiro filho, Domingos; e em 1816, a filha , Luiza.
Tornou à Europa como Deputado às Cortes de Lisboa em 1821 e participou da Constituinte portuguesa, onde apresentou um projeto de emancipação do sexo feminino, e de onde se retirou por não querer jurar a Constituição votada.
Em uma das sessões das Cortes Constituintes, exatamente no dia 18 de março de 1822, Borges de Barros apresentou um projeto, no qual propunha, além de outras medidas, a extinção do tráfico dos Africanos e a emancipação gradual dos escravos. O Deputado manifestava-se formalmente contra o comércio dos negros, vale ressaltar que no Brasil
estas idéias ainda não tinham se manifestado, e nas próprias nações cultas da Europa, salvo a Inglaterra, o tráfico ainda não tinha sido totalmente suprimido. Portanto, Pedra Branca, tornou-se naquele Parlamento o precursor dos seus compatriotas que na terra natal propagaram os germens da reforma do elemento servil.
Tendo prévio conhecimento da pretendida idéia de recolonização do Brasil, escrevia Domingos Borges de Barros e seus companheiros baianos Miguel Calmon du Pin e Almeida (o futuro secretário da junta de Cachoeira, pela Independência, e futuro Marquez de Abrantes), carta política, também pela Revolução da liberdade, carta lida a 25 de junho de 1822, na casa do Desembargador Araújo Gondim, na presença de ricos homens do Recôncavo.
É o registro do primeiro vagido de Independência, primeiro dos acontecimentos até 7 de setembro no Ipiranga.
Em 23 de setembro, em Portugal ainda não se sabia da maioridade do Brasil, aqui declarada, e Borges de Barros, com outros 33 Deputados brasileiros, firma a Constituição política da Monarquia Portuguesa.
Mas a independência foi um fato e Portugal a princípio não reconheceu assim como a França e a Inglaterra. Borges de Barros foi mandado de Lisboa a Paris, no sentido de conseguir o reconhecimento do governo da França, sendo nomeado encarregado de negócios em 24 de novembro de 1823, missão difícil, pois Portugal pertencia a Santa Aliança e só depois de 1825 após os bons ofícios de Canning e Stuart, seria possível o reconhecimento da Independência por Luiz XVIII. Somente a 11 de fevereiro de 1826, Borges de Barros apresentou ao Ministro de Estrangeiros, Barão Damas, suas credenciais e foi assim reconhecida a Independência e o Império no Rio, desde 24 de outubro de 1825, entrando o Conde de Gestas em relação com o Governo de Pedro I , para o tratado de amizade e Comércio de 08 de janeiro de 1826.
Borges de Barros foi agraciado a 12 de outubro de 1825 com o título de Barão.
Ficou em Paris, Ministro do Brasil. O filho ilegítimo alegando ser brasileiro, pediu a Pedro I o lugar de secretário do pai o que foi concedido, chamando-se Alexandre Sebastião Borges de Barros, fruto de um romance quando solteiro com Françoise Elisabeth Dermé, tendo sido devidamente registrado e ao voltar ao Brasil, Borges de Barros, tê-lo-ia recomendado ao seu amigo Marquês de Marialva, responsabilizando-se, através do seu procurador, pelas despesas decorrentes com a educação do menino.
Os legítimos cresciam e conviviam fraternalmente com o outro, adotado pela boa Dona Maria do Carmo, que permitia chama-la de “Maman”.

Em 05 de fevereiro de 1825, com dez anos de idade, falece na França em Fontenay-Aux-Roses, Domingos Borges de Barros, causa do poema feito pelo pai intitulado “Os Túmulos”. Foi escrito, isto é reeditado pela Academia Brasileira de Letras, em 1945 com erudito e brilhante estudo de Afranio Peixoto, que considera Borges de Barros precursor do Romantismo no Brasil, também ocorreu uma edição na Bahia em 1850, com algumas notas do Dr. A.J. de Mello Moraes.
No dia 02 de outubro de 1826 passou a Visconde, tendo sido alvo de ataque de José Bonifácio de Andrade e Silva, que o chamava ironicamente de “Pedra Parda”. Insinuava o Visconde seria amulatado, entretanto, a descrição do poeta Filinto Elísio em carta endereçada ao próprio Borges de Barros em 1814, esclarece a impropriedade do apelido:


"Eu, velho de 80 anos bem puxados, e Vm. mancebinho
alvo e louro, mui amoladinho e mui gamenho."
(Arquivo do Museu Imperial de Petrópolis .)

Em 1826 foi escolhido Senador pela sua Província, entretanto estava ausente na posse oficial em 22 de janeiro de 1826. Nem para tomar posse veio ao Rio.
“Que esperassem: Paris vale bem mais...“ Estava Borges de Barros em Paris cuidando da educação de sua filha, a “Yayá”.
No ano de 1829, desempenhou no lugar de Barbacena, missão bastante melindrosa, quando foi escolhido, pela sua experiência Européia, para ajustar o casamento da Princesa Dona Amélia de Leutchtenberg com o Imperador D. Pedro I, e por cujo serviço obteve a “Gran Cruz da Ordem de Cristo”, a dignatária da Rosa, onde recebeu a 18 de outubro de 1829 o título de Visconde com grandeza através de decreto.
Em 1831, com a esposa tragicamente morta, Domingos dedica-se inteiramente à educação de sua filha e resolve viajar para o Brasil.
Somente tomou posse de sua cadeira sete anos depois, chegando ao Rio de Janeiro em 18 de julho de 1833 a bordo do paquete inglês “Reynald”, conforme notícia da Aurora Fluminense, de 26 de julho de 1833. Durante a posse, sem muito entusiasmo orou, agradecendo a investidura, não retornando mais, até que em 55, deixava sua vaga para Angelo Moniz da Silva Ferraz, Barão de Uruguaiana.
Após a posse, Pedra Branca retorna à Europa, para completar a educação da filha, que já estava prometida a Miguel Calmon, depois Marquês de Abrantes, - gabando-se também Barbacena da possibilidade do matrimônio com seu filho. Porém nem sempre os filhos fazem como os pais desejam ou esperam, tendo a prendada Yaiá se casado com o Visconde de Barral, a 19 de abril de 1837.
Pedra Branca no fim desta estada na Europa, voltava-se para a Bahia, planejava a criação de um maquinismo entre 1836/37, que pudesse subir e descer a montanha com uma linha de ônibus na cidade alta e outra na baixa, conduzindo pessoas ; ( estas idéias, pioneiras foi depois o que conhecemos como Plano Inclinado, no lugar do antigo Guindaste dos Padres. Ganhou com isso privilégio, e iria requerer da Assembléia Provincial, prorrogação do prazo, pois diligenciava financiamento e planos técnicos na Europa para o investimento que pretendia. Este Plano Inclinado que escapou de chamar-se “Princesa Isabel”, em virtude da queda da Monarquia, com justiça poderia chamar-se “Visconde da Pedra Branca”, como sugere merecidamente Wanderley Pinho.
No seu Engenho, com a esposa já falecida e com sua filha casada, envelheceria lentamente Pedra Branca.
As velhas poesias lhe recobrariam sua vida bem vivida, sem sobressaltos, mas honrada e repleta de feitos digno de um patriota.
Foi nesta época, influenciado por Mello Moraes, que o convenceu de publicar o que faltava da primeira edição, de “Os Túmulos”, que sairia em definitivo da livraria Poggetti, em 1850.
Foi patrono do jornal “A Época Literária”, que circulou na Bahia de 1849 a 1850.
Durante sua permanência na França, no fim de sua carreira política, Domingos publicou também dois livrinhos de poesias que oferecia às senhoras brasileiras por um baiano - Tomo I e tomo II datados de Paris, 1825. Hoje são estes livrinhos raríssimos e sem autoria declarada o que dificulta a sua catalogação. A Biblioteca Nacional não os possui, encontramo-lo no Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro com fácil identificação de autoria de Domingos Borges de Barros “O baiano” é o mesmo B..., Borges de Barros, inicial dos dois nomes de família, forma como assinou o dicionário bem como, os artigos de, “o patriota”.
Pedra Branca tinha os sentimentos mais nobres, e quisera reconhecer o filho, que tivera antes das núpcias, mas no testamento não o chama “filho”, com o escrúpulo de não fazê-lo participar da fortuna, senão de alguns legados, pois a riqueza era principalmente de sua mulher e deveria caber apenas à filha; daí um processo de reivindicação que Pedra Branca queria justamente evitar, entretanto, após sua morte houve uma ação e petição de herança requerida por seu filho Alexandre Sebastião Borges de Barros, contra o Conde e a Condessa de Barral etc.,
na Bahia em 1858, volume de 220 págs. (publicação judiciária, para a relação da Bahia).
Com os seus escravos foi terno e carinhoso. No seu testamento declarou que libertaria todos os seus bons escravos, segundo os seus princípios se apenas dependesse da sua vontade, porém libertou alguns e de outros faz legados, conforme testemunho da época.”Nas propriedades que visitei, tive ocasião de verificar que havia senhores duríssimos para com seus escravos e outros que eram antes escravos dos seus escravos". Entre estes últimos, devo citar o Visconde da Pedra Branca, pai da Sra. Viscondessa de Barral, que exerceu durante muito tempo funções diplomáticas em Paris. Este bom e amável velho só vive para seus escravos e apenas não vive com sua filha em Paris com receio de que sejam maltratados. Seus escravos começam a trabalhar às 9 horas da manhã e largam os serviços às 15 horas. Cada um deles possui uma porção de terras que escolhe onde quer e que cultiva quando e como bem entende. Cada um tem um cavalo, alguns possuem até mais de um, que alugam ao seu senhor. Possuem também bois, carneiros etc., além do cuidado do senhor com a saúde deles. Toda mulher escrava que tem um certo número de filhos, recebe a sua carta de alforria.

Outro fato também digno de citação é a respeito da dívida que o Visconde da Pedra Branca tinha com o Convento do Desterro.
Em 1748, o Coronel Sebastião Borges de Barros, hipotecou o Engenho de São Pedro, tomando ao Desterro como empréstimo, a quantia de 2:400$000. A dívida ficou sem pagamentos até 1761, quando foi registrada nova escritura e pagaram-se os juros. Falecendo o devedor, a quantia emprestada passou a responsabilidade do irmão do primeiro mutuário, Domingos Borges de Barros; em 1789, moviam-lhe execução e, em 1806 realizaram pagamentos em caixas de açúcar branco e mascavo. Em 1838 ainda pagavam os juros e o principal; nesta época o responsável era o Visconde da Pedra Branca, Domingos Borges de Barros, ainda proprietário do Engenho, que remiu suas dívidas com o perdão dos juros. O Engenho de São Pedro esteve hipotecado durante 97 anos, a uma mesma família.

Engenho São Pedro em dia de festa

O Engenho de São João, também de responsabilidade do Visconde da Pedra Branca, hipotecado em 1805, teve como devedor original Manuel Ferreira de Andrade, herança de sua viúva, D. Maria do Carmo de Gouveia Portugal de Andrade, casada em segundas núpcias com o Visconde. O principal de 1:400$000 foi pago em 1845, tendo sido perdoado os juros por conveniência do Desterro, que desejava receber de pronto o capital.

Salientamos, entretanto, que muitos eram os engenhos hipotecados ao Desterro, conforme documentos da época.
Era então Abadessa a me. Ana Francisca de São José (1841-1844), quando, Clara do Desterro. Dessa vez a Abadessa agiu pessoalmente de forma epistolar, tentando convencer aos devedores o cumprimento de suas obrigações. São extensas as correspondências encontradas, assinadas pelos representantes de velhas famílias, alguns responsáveis por antigas dívidas, outros de débitos mais recentes, mas todos anteriores a 1818.
Do Visconde da Pedra Branca, por exemplo, existem duas cartas datadas de 1841 e 1842. A primeira do Engenho de São João, afirmava:
“Minha vida, por desgraça errante, fez com que meus bens fossem por largo tempo entregues a mãos alheias, e por descuido ou negligência dos que administravam, e dos que deviam ser exigentes para com eles, amontoavam-se os juros da dívida do Imperial Mosteiro que me vim achar mau pagador, sem o saber. Não obstante a consciência das desgraças da nossa Província e maior ainda da nossa miserável lavoura, ao saber dos débitos fora pagando conforme podia”. Nas despedidas o Visconde mostrava-se surpreendido e magoado pelo tratamento que lhe dispensara a Abadessa : “Magoado com tão inesperado quanto desusado rigor, da parte de pessoa tanto do meu respeito, e de quem esperava melhor tratamento, resta-me a resignação”. Concluía afirmando que apesar da estação mesquinha, faria, não tanto quanto desejava, mas o que podia, para provar seu grande empenho em pagar as dívidas.
A segunda carta, do Engenho São Pedro, era mais realista, demonstrava a dificuldade em resgatar as dívidas, embora com a melhor das intenções: “Porém o homem põe e Deus dispõe”, informando que trabalhara até quando havia aguentado as suas forças, mas uma seca, seguida de uma praga de lagartos, baldou todas as suas esperanças, destruíram-se as plantações e com elas as safras do ano passado. Até aquele momento, um dos seus Engenhos não dera início a moagem. Embora esperasse na força do céu, sofria o desprazer de adiar seu empenho, e nem sabia o que fazer no ano presente, (1842) diante dos rigores que atingiam a lavoura, que nem chegavam para o sustento da fábrica. Nesta franca exposição dos seus dissabores, a Abadessa veria o seu sentimento, achando que não seria mais preciso lembrar-lhe o que tinha tão presente na memória, por dever e gosto, de concorrer para o desempenho de suas obrigações, para com a boa e sábia administração do triênio da me. Ana Francisca de São José. Se na primeira carta Pedra Branca mostrava a altivez de quem ignorava a situação das dificuldades da lavoura de cana de açúcar, na segunda era mais objetivo e demonstrava já estar incluído no contexto de outros lavradores e senhores de engenho, que lutavam com desespero, para reerguerem a situação de grave desequilíbrio observada na Bahia, pela falta de capital e pequeno esforço de trabalho, contando muitas vezes com as condições adversas do clima.

No dia 20 de março de 1855, falece Domingos Borges de Barros, poeta e estadista, que sempre soube honrar as letras e soube bem servir à pátria, prestando-lhe os mais assinalados serviços, quer no Parlamento onde sua atividade foi brilhante e profícua, quer no estrangeiro, onde, por várias vezes, representou os interesses do Brasil, sempre com inexcedível atitude. Guarda-lhe a pátria por estes feitos, o nome venerando que se acha inscrito entre um dos maiores brasileiros.

Obras:
- Dicionário Francês - Português/ Português - Francês
Paris - 1812 (Obra sem mencionar seu nome).

- Os Túmulos - Poema filosófico e romântico
Paris - 1826.

- Ode ao Conde dos Arcos (Borges de Barros foi colaborador do Patriota).

- Memória sobre plantação de Uruçu.

- Memória sobre o café, sua história cultura e amanho.

- Memórias sobre os muros de apoio ou muros que servem para sustentar a terra.

- Memórias sobre os meios de desaguar ou esgotar as terras inundadas ou encharcadas por método fácil e pouco dispendioso.

- Vantagem da vida campestre ( em resposta à carta em que de Lisboa se despediu, devendo partir para a Bahia, escritas em Paris em 02 de maio de 1806. É uma poesia em verso heróico.
*Vide poemas de Domingos Borges de Barros na II Parte do trabalho -