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quarta-feira, 26 de setembro de 2007

A Condessa de Barral e Irmãos

5.(13)



Luiza Margarida Portugal de Barros, quando jovem, pintura de Vanacker sobre marfim em bracelete com caixa de ouro (Museu do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro)


1 - Filha do Visconde da Pedra Branca, Domingos Borges de Barros e de D. Maria do Carmo Gouveia Portugal de Barros, nascida em Salvador no dia 13 de abril de 1816 e batizada na Freguesia da Sé conforme abaixo:
Certifico que, revendo um dos livros findos de assentamentos de batizados da Freguesia da Sé, anos de 1816 a 1829, às fls. 2, consta o assento do teor seguinte:
“No dia dezoito de julho de mil oitocentos e dezesseis no oratório do Dr. Francisco Borges de Barros, com licença de S. Exa. Rvdma. batizou solenemente e pôs os santos óleos o Rvdo. Padre Mestre Frei Joaquim de São Simplício, religioso Franciscano, a Luiza, “filha legítima de Dr. Domingos Borges de Barros e de D. Maria do Carmo Gouveia Portugal . Foram padrinhos o Brigadeiro Pedro Alexandrino de Souza Portugal e sua mulher D. Luiza Rosa de Gouveia Portugal. De que para constar fiz este assento que assinei”. (assinado) o Coadjutor Manuel Pereira de Souza . Nada mais consta.
Como o irmão Domingos, foi Luiza uma criança bastante precoce de inteligência, bem como, muito frágil fisicamente, merecendo sempre cuidados médicos. Seu pai, entusiasmado com a facilidade de aprendizado dos filhos, sempre os incentivava demasiadamente aos estudos. Disto resultou, que o filho mais velho contraísse grave moléstia, que lhe foi fatal; Luiza, teria o mesmo destino não fora a precisa intervenção de um médico que aconselhou à família queimasse todos os livros, e levasse a menina para Mont morency e que a deixasse andar pelas florestas, pois o bom ar e as distrações seriam salutares para a sua recuperação.
De seu pai, herdou a cultura, as maneiras francas e agradáveis, a firmeza de caráter e o comportamento romântico.
Durante sua juventude, participou de muitas viagens diplomáticas com o pai, conhecendo vários países da Europa e passou grande parte de sua infância e juventude na França, o que contribuiu enormemente para aumentar seu grau de cultura, colocando-a acima de qualquer brasileira da época.
Luiza, recebeu de Pedra Branca uma educação esmerada e em companhia de sua mãe, aprendeu os princípios da verdade e adquiriu o gosto pelo belo. Seu pai a ensinou respeitar e amar o dever, o que expressou nos seguintes versos:





Põe na virtude, Filha querida,
De tua vida todo o primor

Não dês à sorte, que tanto ilude,
Sem a virtude algum valor

Tudo parece : murcha a beleza,
Foge a riqueza, esfria Amor

Mas a virtude zomba da sorte,
E´ té da morte disfarça o horror

Cultiva atenta, filha mimosa,
Sempre viçosa tão linda flor!


Da sua primorosa educação Luiza colheu vários conhecimentos, falava fluentemente as principais línguas vivas, escrevia cartas com graça e desenvoltura, a naturalidade e a finura marcavam o estilo da época.
Em companhia dos pais percorreu a Itália e a Suíça, tendo sido levada mais tarde, a passear pelas margens do Reno. Estas viagens contribuíram para alargar-lhe os horizontes do saber.
Na França estava reservado ao seu querido pai, nova e cruel dor. A Sra. da Pedra Branca, estava grávida e projetava dar ao filho perdido e pranteado um pequeno sucessor; infelizmente, porém morreram em 06 de março de 1831, mãe e filho, após um parto muito difícil, e o infeliz viúvo, tomando horror à cidade de Paris onde perdera suas afeições mais caras, pediu demissão e se retirou com sua filha e uma governanta inglêsa, Srta. Blaír, para Boulogne - Sur - Mer. Aí Luiza conheceu as senhoritas Maude e Hartwell que se tornaram desde então suas melhores amigas. O Sr. Hartwell ligou-se estreitamente ao Senhor da Pedra Branca e quando este, pressionado por seus amigos e correligionários para vir enfim ocupar sua cadeira no Senado, o que ainda não havia feito, resolveu partir para o Brasil, tendo o Sr. Hartwell se oferecido para ficar com Luiza em sua casa como uma quarta filha, durante a ausência do amigo. Pedra Branca aceitou e partiu para o Rio de Janeiro. No mesmo navio viajavam o Conde de Saint - Priest recentemente nomeado Ministro da França no Brasil e seu jovem primo, o Visconde de Barral, que se tornou amigo de Pedra Branca. Esta amizade conduziria o Visconde de Barral, em seu retorno à França a procurar seu velho amigo e conhecer sua filha, dela se enamorar e desposá-la.
No século XVIII, um Barral casou-se com uma Beauharnais , um neto deles foi o Marquês Alexandre Beauharnais que casou-se com Augusta da Baviera, dos quais nasceu Amélia, segunda Imperatriz do Brasil.

O casamento de Luiza, ocorreu em 19 de abril de 1837, em Boulogne-Sur-Mer, com um primo dos Barral-Beauharnais, Jean Horace Joseph Eugêne, Conde de Barral, Marquês de Montferrat e Marquês De La Batîe D’ Arvillars, nascido na França a 19 de Outubro de 1812, filho de François Joseph Amédée Hyppolyte de Barral e de D. Cathérine Robin de Scevole.
Logo depois, Pedra Branca retorna ao Brasil, acompanhado do jovem casal. Algum tempo depois, Com tantos predicados positivos a “Menina de Engenho”, chega ao esplendor da Corte francesa. A Viscondessa de Barral, torna-se dama de honra da Princesa D. Francisca de Bragança, irmã do jovem Imperador D. Pedro II, e que esposara o Príncipe de Joinville, terceiro filho do rei da França, Luiz Felipe de Orléans, passando a residir na corte . D. Francisca, encontrou na jovem Viscondessa de Barral, sua patrícia e amiga, a confidente que precisava e obteve de seu sogro que a nomeasse Dama de Honor (1844). A Condessa permaneceu como dama da Princesa de Joinville, até que a revolução de 1848, na França arrebatou ao Rei Luiz Filipe o trono.

A Viscondessa logo retorna ao Brasil em companhia do marido, e dedicam-se à vida rural. A vida no Engenho de São Pedro, era simples e muito agradável ao casal.
Enquanto o Senhor Barral percorria a cavalo as vastas plantações de cana de açúcar ou administrava os trabalhos de fabricação do açúcar, sua esposa passava o tempo lendo para o pai ou ensinava o catecismo aos negrinhos, fazia visitas na enfermaria, principalmente quando precisava preparar medicamentos ou fazer algum curativo. Criava com satisfação pombos, patos e frangos, gostava de montar cavalos, e ao cair da tarde reunia-se ao esposo para juntar as vacas e touros no curral. Os vaqueiros ajudados por cães, tangiam o gado furioso para a entrada, espetando com lanças flexíveis os bezerros, bois ou touros que tentavam constantemente escapar do rebanho. A intrépida amazona, acostumada com as caçadas de Compiègne reencontrava, nesses momentos, toda a sua audácia de outrora.
No dia 10 de fevereiro de 1854, nascia na cidade de Salvador o pequeno Horace Dominique de Barral, que foi bastante festejado em virtude de ser o primeiro filho e de já estarem casados a dezesseis anos, além do mais, a satisfação do filho ser um menino.

Algum tempo após o nascimento do filho, uma terrível epidemia se declara na Bahia, o cólera fazia a cada dia centenas de vítimas. O pavor e o desespero foram de tal ordem que ninguém ousava socorrer os coléricos e em muitas casas onde os pais acabavam de sucumbir ao flagelo, as crianças totalmente desprotegidas, ficavam abandonadas em virtude do medo das pessoas em contrair a terrível doença, sobreviviam de alguns alimentos que eram jogados de longe. A epidemia castigava menos nos campos, e todos os amigos da Senhora Barral foram unânimes em opinar para que ela deixasse sua casa da cidade, aonde viera dar a luz, e se refugiasse com o filho e o pai no Engenho onde se encontrava o marido. Preparava-se para acatar os conselhos judiciosos, foi quando teve conhecimento da situação miserável dos infelizes órfãos que o pânico geral condenava ao abandono e sem dúvida à morte. Logo, mudando de projeto resolveu ficar e ajudá-los. Alguns amigos foram convocados, de imediato foi planejado a forma como iriam arrecadar donativos e onde iria localizar-se o abrigo.
O heroísmo foi contagioso, eletrizados por tanta coragem e confiança, as senhoras da Bahia organizaram-se em grupos de socorros. Algumas se dirigiam para os locais infectados pela cólera, para de lá retirarem as crianças; outras saíam pela cidade batendo em todas as portas e recolhendo donativos. Em poucos dias o asilo provisório estava fundado, quando retornava dos bairros que estavam mais contaminados, a Sra. de Barral fazia questão de amamentar o filho que a esperava. Dizia ela, quando as companheiras suplicavam para que fugisse ao contágio, que Deus não iria puni-la, pois estava praticando o bem.
Corajosamente, dirigiu pessoalmente o orfanato da Providência, até o dia em que o colocou nas mãos de algumas irmãs de São Vicente de Paula que foram chamadas às pressas, sendo as primeiras desta congregação, a serem introduzidas no Brasil. A Casa da Providência foi a primeira obra de assistência social feminina no Brasil, fundada no dia 09 de julho de 1854, a princípio tinha o nome de “Confraria das Senhoras da Caridade”, por ordem do Arcebispo Dom Romualdo Antonio de Seixas e iniciativa da Viscondessa de Barral. Sua primeira sede foi o prédio numero 19, ao lado da Igreja do Rosário no Pelourinho.
Pouco depois da instalação definitiva dessa instituição, que Deus sempre protegeu e que se tornou uma das mais florescentes fundações do Brasil, a Senhora de Barral teve a tristeza de ver seu pai, que ficou paralítico de ambas as pernas, renunciar a permanecer na fazenda, onde não poderia receber imediato cuidados médicos. Por outro lado, o Sr. de Barral não podia deixar a plantação e o Engenho do qual se tornara único responsável. Portanto, ela tinha que se resignar a se dividir entre o pai doente e o esposo, para atender a dupla exigência do seu coração.
Certo dia encontrava-se no Engenho, quando recebeu a notícia de que o seu pai estava muito mal. Nesta época, chovia torrencialmente na região, as estradas, ou melhor, a sequência de caminhos estavam mais ou menos impraticáveis. Doze a quinze horas seria o tempo necessário para percorrer o trajeto, quando na boa estação durava aproximadamente de quatro a cinco horas. Muitas vezes a lama que se encontrava chegava ate a barriga dos cavalos atrasando consideravelmente a viagem, e a chuva não cessava de cair havia alguns dias, eram chuvas tropicais, verdadeiras trombas d’água.
Mesmo conhecedora destas informações a Condessa não hesita, monta seu cavalo, seguida de um velho negro servidor de confiança. Não contara, entretanto, com as cheias dos rios, sobretudo um que atravessava a estrada de Santo Amaro, estava tão volumoso que até já tinha derrubado a ponte onde passariam. Sentindo que ficaria sem notícia se tentasse contornar o rio, ou até correndo o risco de perder o vapor de Santo Amaro e ter que esperar vários dias pela nova partida, não viu outra solução senão atravessar o rio a nado, coisa que fazia muito bem. Seu acompanhante atravessou a nado juntamente com os animais, e logo em seguida a Condessa desfazendo-se do seu vestido de amazona que amarra à sela, atira-se ao rio de forma destemida, e ao cabo de algumas horas, encontrava-se à cabeceira de seu pai.
Seu pai, apesar dos cuidados que recebeu, faleceu no dia 20 de março de 1855, mal terminara o luto e eis um mensageiro trazendo um enorme envelope lacrado com as armas de Bragança e a indicação do mordomo da Casa Imperial, Sr. Paulo Barbosa da Silva, escrevia uma carta à Sra. de Barral anunciando que Sua Majestade resolvera confiar-lhe a orientação da educação de suas filhas, tendo decidido chamar para esta invejável missão, a antiga dama de honra de sua irmã D. Francisca, dama que sua Majestade apenas conhecia, mas de quem a princesa fazia tantos elogios em suas cartas e cuja a fama de saber, coragem e virtude chegara até a Corte. Embora bastante lisonjeada com aquele tão inesperado convite, foi muito prudente na resposta, tendo inclusive solicitado detalhes e apresentado algumas condições ao Mordomo da Casa Imperial.
Alguns meses depois, uma corveta de guerra (1) vinha buscar na Bahia a nova governanta, nomeada Dama de Palácio por Decreto de 31 de agosto de 1856, e a transportava com grandes honras ao Rio de Janeiro. A Senhora de Barral permaneceu algum tempo no Palácio de São Cristóvão; mas esta residência não convinha aos gostos de independência de seu marido e pouco depois o casal se instalou numa grande e bela casa situada nas proximidades da Quinta Imperial, na casa pertencente ao Visconde de Mauá, à Rua Nova do Imperador ( Depois Av. Pedro Ivo e atual Av. Pedro II ). Mudaram-se pouco tempo depois, para a Rua Bela de São João e mais tarde para a Rua da Princesa, hoje Catete.

(1) Tratava-se da corveta Recife, comandada pelo 1o. Tenente Delfim Carlos de Carvalho, futuro Barão da Passagem. Com quatro dias de viagem desde a Bahia, chegou ao Rio de Janeiro em 31 de agosto de 1856, data do Decreto de Nomeação da Condessa de Barral, com quem vinha seu marido, seu filho, três criados e quatorze escravos.
( Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 1o. de setembro de 1856. )
( Nota do serviço de pesquisa Histórica )

Exerceu de 1856 a 1864, sua elevada e espinhosa missão de educadora das Princesas D. Isabel e D. Leopoldina, que na época ainda em tenra idade, contavam 10 e 9 anos respectivamente.
Concluída a tão nobre missão D. Pedro II, impressionado com a habilidade intelectual da Condessa de Barral, concedeu-lhe em 16 de dezembro de 1864, em memória do seu saudoso pai, o título de Condessa da Pedra Branca. Além do título, ofereceu-lhe valioso honorário vitalício, que ela não aceitou.
Comentários de Wanderley Pinho, Salões e Damas ..., 195/226
“Nenhuma mulher daquela época teve igual poder social ... e Político”. Reflexo da situação palaciana que desfrutava?
Áulico resplendor de aia das princesas, íntima do passo?
Nada disso, que entre tantas damas assim nenhuma foi como ela; ou tudo isso, a servir um espírito vivo e culto, desembaraçado e sagaz, que captava como um imã, e impunha suavemente como uma onda que se desenrola e domina.
Menos Egéria, inspiradora que distribuidora de graças, praticava a melhor política que podia ser praticada por uma mulher.

Não atravessou a vida na grande sociedade e nos paços reais sem sombras de antipatias e algumas hostilidades. Suprema sutileza foi justamente dissimulá-las e neutralizá-las, convertendo-as, quanto pode, em alianças e amizades. A mesma Imperatriz não sofreu inteiramente quieta o ascendente que na família Imperial veio exercer a fidalga baiana.
Era a Condessa de Barral excepcionalmente adaptável aos vários meios em que viveu; cortes de reis, na França de Luis Filipe, no Rio de Janeiro e na Petrópolis de Pedro II; entourage de exilados reais; uma capital de Província, como a Bahia; um Engenho de Recôncavo, como o São João”. Após a morte do seu esposo em 21 de março de 1868 em Paris, a Condessa de Barral e de Pedra Branca, tomou para si os ímpetos abolicionista do seu pai de conceder alforria a escravas que dava luz à seis filhos. Em suma , por verba testamentária, concedeu a muitos cativos, recobrarem a liberdade.Obedecendo aos seus naturais sentimentos, corroborados por tão filantrópicos exemplos assumiu a causa das pobres vítimas.
Executou a risca os desejos do pai, a respeito da alforria das mães de seis filhos. Em 1867 juntamente com João Garcez dos Santos, resolveu declarar livres os nascituros de todas as suas escravas; antecipando assim a realização do principal escopo da lei Rio Branco promulgada três anos após. Seguiram-lhes o exemplo os frades da Ordem de São Bento, entre os quais havia vários Santoamarenses, libertando os 4000 escravos que a Ordem possuía. Finalmente antes de começar no país, em 1880, o movimento popular em prol da abolição, a virtuosa senhora, para coroar a obra do resgate empreendido por si, libertou todos os escravos que ainda em grande quantidade, estavam a seu serviço.

1) Nota: Os ciúmes não tardaram a se manifestar e a envolvê-la, provocando restrições por parte das outras senhoras, Damas do Palácio, visto que a Condessa fora investida no cargo de principal Dama da Casa Imperial, a serviço da Imperatriz D. Tereza Cristina Maria (3a. Imperatriz do Brasil) , filha de Francisco I - Rei das duas Sicílias ( 14-03-1822 a 28-12-1889).
A todos o Imperador fez sentir o desagrado em que incorreriam aqueles que " contraíssem por seus atos e palavras a influência que deve a Condessa de Barral ter sobre a educação de S.S.A.A. ..." Ordem escrita do Imperador D. Pedro II - em Magalhães Jr. op . cit., p. 13 . Nota pesquisada no livro Cartas a suas Majestades
A Condessa apontada na primeira fila da gloriosa plêiade dos campeões da abolição, em 1888 prescrita na lei, assinada pela imortal princesa de quem fora juntamente aia e amiga.
Já em 1886 a abolição tornava-se para a Condessa de Barral um processo irreversível, preocupava-se, entretanto com a dimensão e com as reais conseqüências para a família imperial, tanto que aflita escreve para o Imperador demonstrando sua preocupação.
No dia 28 de dezembro de 1886, o Imperador responde a sua carta, entretanto, não demonstra a mesma preocupação. “A questão da emancipação vem progredindo e espero ao longe vê-la realizada sem maiores abalos”, porém, é insinuante quanto ao afeto que sentia. “Minha vida é a mesma e quando passo pelo Chalet Miranda não imagina que saudades tenho”.

E os posteros, assim como os contemporâneos, diante da venerável figura da Condessa de Barral e Pedra Branca, iluminada pelos esplendores celestes da caridade, terão mais um relevante motivo para exaltar-lhe a memória, recordando que ela espontaneamente restituiu a centenas de homens à comunhão civil e política da Pátria, atitude que certamente daria bastante orgulho ao estimado pai.
“Ali ou acolá era sempre das primeiras se não a primeira, sabendo, como ninguém ser em Roma, romana”.
Vejamo-la nas Tulherias como dama de Honor da princesa D. Francisca, irmã de D. Pedro II, que acabara de casar com o príncipe de Joinville e figurava na Corte de seu sogro o rei da França. Usava então de ousados estratagemas, finamente mundanos, para bem situar a sua ama na alta sociedade francesa.
Quando em 1871 os imperantes foram ao velho mundo, reassumiu a Condessa de Barral o posto de Dama da Imperatriz e com eles viajou. Por onde andou, em cidades e cortes, mais que tudo foi uma embaixatriz da inteligência e da graça brasileiras. O Imperador surpreendia pela simplicidade, pela cultura e gosto das ciências e artes. Mas carecia de verve. Demais não se despia inteiramente da sua indumentária de rei, austero e frio. A Imperatriz era só bondade. A Barral, porém, expandia-se brilhando, ajudada do talento e de seus dotes literários.
A estima, a admiração intelectual, a amizade amorosa, o amor físico do Imperador pela sua Condessa (que tanta influência ou quase domínio sobre ele exerceu) e toda a gama de sentimentos e concessões dela, por ele e a ele, tudo isso que a gente do Segundo Reinado não queria crer e a tradição guardou, para o comentário poético ou malicioso; esse romance, tido e mantido numa tal névoa de incerteza que lhe dá - por isso mesmo que se portou discretamente oculto e ... honestamente dissimulado - o privilégio de ser comentado com simpatia e até respeito, desvendou-se de todas as gazas com a publicação, 65 anos após a morte dos dois amantes, da mutilada correspondência entre ambos.”
* Vide cartas da Condessa de Barral na II Parte do trabalho - pág.


Em 1890, atendendo aos inúmeros convites da Condessa, D.Pedro II visitou Voiron no Castelo em que vivia. Da visita temos fotos e trechos do diário do Imperador exilado como se segue:


Março 37 – Doc.1057
Caderneta de notas diárias do Imperador no exílio nº 32 – 13 de junho a 8 de agosto de 1890 (faz referência a Condessa). 108 fls.

Trechos do Diário de D. Pedro II (Caderneta nº 32 – Junho de 1890) com referências à Condessa de Barral.

16(2ª fª)... Almocei bem, terminei a leitura do que tinha até agora a respeito do Camilo e vou escrever à Condessa... [julho de 1890]. 24(5ª fª)... E agora vou a Riancey – depois de enviar telegrama à Condessa...



25(6ª fª)... 7h 55’ Voiron. 5h 20’ Condessa, Dominique,Chiquinha, meninos destes, Dória e Amandinha. Bom quarto para mim, o da Condêssa [...] Acabo de passear de carro com a Condessa, Aljezur e Mota Maia...



26(Sábado)... Dei meu passeio [a pé] e de carro pelo bosque e quase toda a povoação, traduzindo [sic] ramos para a Condessa e para a Isabel... 2 ¾ Dei bonito passeio a pé com Isabel, Condessa, Amandinha e os pequenos, netinhos e Jean Dominique...



27(Domingo)... Já tive a visita de bons dias da Condessa que me trouxe versos de Blanc ancien maire de Voiron, com a data de 6 juillet 1890. [...] já entreguei belos ramos à Condessa e à Isabel. 11h 20’ Acabo de estar com aquela a quem dei a carta que melhorei a dicção dela para Flaige Blanc [...] Recebi o Dr. Emílio da Fonseca o qual veio com a mulher e filhos até aqui para ver-me [...] A Condessa convidou-os a jantar. [...] 6h 10’ Fui com a Condessa, Algezur e Mota Maia de carro e a pé até Moirans ao longo das montanhas e voltei por outro caminho até o castelo de Barral... joguei bilhar com a nora da Condessa, estando presente Mme. Lepic. Fui passear a pé com a Condessa e o Dória pela floresta...



30(4ª fª)... Conversei com a Condessa, Amandinha e outra senhora da casa, tomei chá, despedi-me delas e da Chiquinha que tocava piano, informando-me de Dominique incomodado de cólicas desde o passeio...



31(5ª fª)... Já vi a Condessa na ida e na volta e informei-me da saúde de Dominique que [...] tenho estado conversando com a Condessa e outras pessoas... 10h 10’ Antes do jantar. Passei a pé com a Isabel e a Condessa pela Floresta.



1 de agosto (6ª fª)... 10h ¼ Jantei bem. Tenho estado com a Condessa, a mulher do Mota Maia e a Amandinha a ouvir a Chiquinha e a Isabel tocar bonitas músicas...



2 (Sábado)... 3h ¼ Pouco li pois estive conversando coma Condessa. 5h Volto do passeio de carro com a Condessa e o Aljezur pela volta “dês Gorges” que é bonito.[...] Jantei bem... Depois conversei sobretudo com a Condessa tendo chegado Mota Maia de sua excursão à Grande Chartreuse...

3 (Domingo)...Voiron que tudo encanta com a floresta
Suas montanhas,seu rio a sussurrar
Em torno do Castelo, que a habitar
Sua dona muito mais graça lhe empresta

Breve lhe estou ausente mas não resta
A mim só com o regresso já sonhar
Pois o oceano não pode me afastar
Do que hoje a distância mal contesta

Viveremos assim mais com a amizade
Sentindo que ela assim nos avizinha
Do que é em tempo e gôzo eternidade

E ao Eden recobrado encaminha
Sem ter de alcançar mais a ansiedade
Melhor possua talvez do que já tinha

... Conversei com a Condessa e daqui a pouco vou deitar-se...




4(2ª fª)... Já dei o ramo da Condessa [...] 10h 5’ Depois de falar com a Condessa, ouvir Chiquinha ao piano e dizer adeus aos meus, tomei chá e vou ler ainda...

5(3ª fª)... Passeei dei carro e bilhar com Aljezur. Dei antes os meus dois ramos... Li Lê Brèsil de 8. Condessa está perto de mim também tendo [...] Estive conversando com a Condessa.



6(4ª fª)... Pus o ramo para a Condessa no chão à porta desta, que julgo se estava vestindo e respondeu-me do quarto. Vou à tradução do “sino” de schiller depois de ter copiado o soneto com a data de hoje para da-lo a Condessa. [...] Li Lês étoiles, artigo bom de Alphonse Daudet com esta nota por letra da Condessa que o tinha enviado à Isabel: “Lisez et montrez à l’Empereur em souvenir de son astronomie”. A Condêssa acaba de dar-me [...] Ouvi Chiquinha e a filha de Japurá tocar, conversei com a Condessa e vou deitar-me e ler até dormir.





7(5ª fª)... Deixo hoje Voiron e, com que saudades, os prazes[sic] de uma amizade de quase meio século, embora se gozem por todos os modos possíveis e apesar das maiores distâncias, custa e muito a deixar de gozá-la na intimidade; porém resta a esperança de breve nos revermos e o estudo é o meu grande consôlo. [...] Estou quase vestido tendo tomado boa ducha de onde levo 4 ramos para a Isabel, Condessa e Jjapurazinha. [...] 6 ½ Despedidas saudosas na estação e partimos.


(Carta enviada pelo Arquivo Histórico do Museu Nacional em 12 de março de 1997, Com fotocópias de documentos.)

A Condessa de Barral e da Pedra Branca, D. Luiza Margarida Portugal de Barros, já cansada faleceu na Vila de Saint Solange par Neuvy-Sur-Barangeon, Cher, em Paris/França no dia 13 de Janeiro de 1891. Falou: “Estou cansada, disse por fim, deixem-me dormir”, adormeceu para sempre, com a serenidade de uma consciência pura, a coragem de uma pessoa que sabia não ter que prestar contas a Deus, senão de uma vida plena de dedicação, afeto e caridade.





Fotografia da Condessa de Barral e Pedra Branca tirada em París, no estabelecimento de Ferrier & Lecadre, 56 e 58, Rue de Larochefoucault, pouco tempo antes do seu embarque para o Brasil para assistir ao casamento de seu filho Horace-Dominique, Conde de Barral e Marques de Montferrat. (Da coleção do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro)


Na participação do óbito da Condessa de Barral, figuram seus parentes Carneiro da Rocha, ainda vivos em 1891. Inclusive o Coronel Nicolau Carneiro da Rocha, que, como Procuradores da Condessa de Barral, na Bahia, ocasionou-lhe prejuízos na administração dos Engenhos S. João e São Pedro, conforme carta que escreveu a D. Pedro II, Seu irmão Antonio Carneiro da Rocha, foi Deputado Geral, Ministro da Marinha, da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Senador pela Bahia. Escolhido, ao que se diz, por influência da prima Condessa de Barral, junto ao Imperador.


5.(13)


2- Alexandre Sebastião Borges de Barros


Filho de Domingos Borges de Barros fruto de um romance quando solteiro com Françoise Elisabeth Dermé, tendo sido devidamente registrado, e ao voltar ao Brasil, Borges de Barros, tê-lo-ia recomendado ao seu amigo Marquês de Marialva, responsabilizando-se, através do seu procurador, pelas despesas decorrentes com a educação do menino. Alexandre, alegando ser brasileiro, pediu a D. Pedro I o lugar de secretário do pai, o que foi concedido.

5.(13)

3- Domingos Borges de Barros filho

Morreu em Paris, no dia 05 de Fevereiro de 1825 com 10 anos de idade ; ali foi embalsamado e transferido para a Villa de S. Francisco, e depois para a Capella do Engenho São Pedro, mais tarde seus restos mortais foram juntar-se ao de seu pai no mausoléu dos Borges de Barros no cemitério do Campo Santo em Salvador.