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segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Cartas do Imperador para a Condessa de Barral

“ Os anos passam , a política muda, as dores arrefecem, mas depois de tanto tempo é inalterável a amizade dos Imperadores com a Condessa de Barral. Eis uma carta do Imperador naquela sorte de amizade- amorosa, que deu o nosso ilustre amigo Raimundo Magalhães Júnior a convicção de um amor real e de uma união em longo período de adultério; assim escreve num dia de março de 1884, D. Pedro II à amiga. ”


“Condessa que boa carta é a sua de 24 do passado ! Você ainda não imagina quanto me aflige não demonstrar-lhe ainda mais quanto lhe quero e por isso agradece-me o telegrama pelo dia 17. Querer como lhe quero é muito bom; porém sofre-se muito na ausência sobretudo na minha posição. Você sabe que não sou inclinado a contar destas histórias que muitas vezes nem mesmo sei pois não procuro que m’as refiram.

“Na nossa idade creio que não devemos senão saborear a amizade de mais de 30 anos”

- Comentário e Carta pesquisada no livro ( Cartas a suas majestades ).



Rio 24 de dezembro de 1884


Condessa


Respondo a sua carta de 19 do passado. Que boa é ela ! As saudades aumentaram. Não imagina a falta que você me faz.
Nada de maior. As eleições têm me entristecido. Veremos a Câmara que vem. Há de dar que fazer. Não desanimo, e felizmente ainda posso trabalhar bem. Os incômodos quase que desapareceram.
Os viajantes têm ido muito bem.
Amanhã já durmo em Petrópolis. Que calor aqui e que roda-viva !
A Argemirinha e o marido lá vão a 25 - Amanhã - para Sta. Catarina.
Muito me afligiu a morte de D. Rosa. Ainda me lembro dela.
Peço-lhe que dê pêsames em meu nome a Mme. de Villers.
Tenho ainda muito que fazer. Adeus ! Brevemente escreverei como desejo. Meu abraço a nosso caro rapaz. Muitas lembranças à Mãezinha; beijinhos ao Joquinha e para você tudo de


Seu de sempre

P
Petrópolis - que saudades! - 30 de Dezembro de 1884


Condessa


Recebi ontem seus escritos sem data. [parece com nossa amizade] Apesar de você supor que eu estava de humor bem sabe que com você jamais [nem tanto] brigo deveras. Digo-lhe somente tudo o que penso.[até um certo ponto. Há 2 modos de pensar en dehors et en dedans-]
Estes dias daqui já me tem feito muito bem ao físico. Tem chovido quase sempre de tarde; mas ainda não deixei de sair segundo o custume.
Os Amelots estiveram hoje cá.[como vai Rosalie da pele?] Tereza Drummond ainda não veio visitar-se aqui.[V. M. ainda não me falou nela]
A pobre Mme. Sandford parte a 9 para a Inglaterra.Parece que ficou mal de furtuna.[Coitada]
As notícias de meus filhos e netinhos são excelentes. Faze-me ......
muita falta.[-Naturalmente ......]
Quantas vezes tenho ...... Hotel Orleáns, e o ...... varanda, não falando da casa perto do portão - lembra-se ainda do nome do porteiro, e ouve o toque do sino? [ora se me lembro do Sr. Rosário! estou ouvindo o Sino! ... Le Cantique des Cantiques!! -]
Comecei minhas leituras prediletas, mas por doença do Henning a quem dão agora erisipelas nos pés não continuo os meus estudos com eles.[o Bispo de Orléans dizia j’ai eu 7 Secrétaires tués sous moi, V.M. vai matando muitos mestres] Não há mais Schreiner [ E esse o que é feito dele?] para o Árabe. Enfim que diferença de Petrópolis dos bons tempos!
Depois de amanhã por ser dia santo não há trem pela manhã para a cidade e por isso dou-lhe desde já bons anos como lh’os pode desejar quem tanto e tanto lhe quer. Transmita-os também com meu abraço a nosso caro rapaz e receba-os também a mãezinha, e ....... muitas festinhas o Jojoca [todos lhe beijam a mão.] ...... a parte ...... de estar lá pelo pensamento.Tome o abraço de sempre do


Seu

P


Petrópolis 14 de janeiro de 1885

Condessa

Respondo a sua carta de 18 do passado.
Sabe como as recebo sempre.
Se não lhe escrevo por todos os vapores, é porque às vezes com o que tenho que fazer não sei da partida do vapor.
Logo que Itajubá telegrafou a notícia de cólera como epidemia, e não esporádico ou cólera - nostro que se tomaram as medidas aconselhadas pelo inspetor da saúde do porto; professor da Escola de Medicina muito inteligente. Já expliquei o motivo do fechamento dos portos. Há muito que eu mesmo falei na necessidade de lazareto, para qualquer caso futuro; mas seria quase impossível obter das Câmaras o dinheiro precioso; pois que epidemia vinda do além do oceano so a tivemos a mais de 20 anos.
Mais do que em lazaretos creio na boa higiene das povoações.
Minha perna esta quase pronta e poupo-a o que é preciso. A estada aqui tem me feito muito bem à saúde em geral.
Minha vida é o que sabe e que saudades de lá colho eu em tantas partes !
Quem me dera estar também na Grande Garenne; mas você sabe bem porque. Cada vez lembro mais de nossos bons tempos.
Nada nenhuma novidade de aqui. Parece-me estar tudo calmo em relação ao ano passado. Já lhe disse que estava aqui a Ministra da Rússia Montenegrina - não da Herzegovina. Tem ar modesto e creio ser muito boa senhora.
O Ledchine retira-se amanhã para a Europa. Parece-me levar saudades daqui.
A Tereza Drumond passou num bonito carrinho, e encontrei-a esta manhã com Mme. Amelot.
Ontem choveu a valer quase todo o dia, e estouraram, sofríveis trovões. Quando cai aqui às gamelas parece-me que se abre a porta de vidraça do saguão, a você me aparece com seu ruge-ruge antes de vê-la.
Tenho lido e estudado bastante, e sem cansar-me. Carecia desta vida tranqüila.
Adeus ! Meu abraço a nosso caro rapaz. Muitas lembranças à Mãezinha, beijoca ao jojoca e para você tudo o que lhe dá nossa amizade.
Você pensará em mim como eu em você. Adeus !
Seu de sempre

P


Petrópolis 7 de Janeiro de 1886 [1887]


Condessa

Recebi hoje sua carta de 14 de Dezembro. A partida de meus filhos e netinhos foi-me muito dolorosa.
As saúdes são boas.
Meto a mão na consciência e assevero-lhe que é calúnia o que disseram de cartas suas mostradas e do mais [ pois disseram e muito mais.]
Você sabe como penso a respeito da educação dos Jesuítas [ eu a acho excelente ]
Reprovei que as prisões publicas servissem para guardar escravos e disse que competia aos senhores providenciar para que eles não fugissem e aplicar-lhe os castigos que as leis permitem.
Agora já foi abolida a pena de açoites. [ Mas cada proprietário castiga at home ]
Nada perguntei sobre o mistério da encarnação. Apenas notei o erro ou falta de clareza do livro de doutrina adotado que dizia que Jesus Cristo fora concebido do espírito Santo quando tinha sido a Virgem Maria por obra e graça do Espírito Santo. Sempre sustentei a necessidade nas escolas do Brasil do ensino religioso. Agradeço-lhe perguntar-me tudo isto, embora você decerto não acredita em tudo [ Não em tudo mas em muitas coisas sim ] o que lá lhe chega ou se inventa a meu respeito. [ Não há fumaça sem fogo ]
A Amelot ia morrendo de uma queda de cavalo. [ Estou sentidíssima ] . Ia só . [ que imprudência ! ] O cavalo empinando-se e recuando caiu num buraco em cujo fundo ficou ela felizmente, não sofrendo assim todo o peso do cavalo que só levantaram de sobre passados alguns minutos. [ Que horror ! ] Quebrou o colo do fêmur; [ pobrezinha ] mas fora da cápsula. [ Não sei onde é essa cápsula ] - Não tem tido febre e o estado geral é bom [ Deus seja louvado ] já se lhe aplicou um aparelho provisório. Sucedeu isto na manhã de 4 .
Brevemente lhe escreverei de novo.
Adeus ! Meu abraço a nosso caro rapaz. Muitas lembranças a Mãezinha, festinhas ao Jojoca. Queria falar-lhe só no fim da leitura da biografia de seu Pai pelo Dórea; mas você poderia tomar meu silencio por esquecimento. Muito me agradaram as duas leituras já feitas. Soube muita coisa interessante que eu ignorava da vida de seu Pai.
Adeus ainda !