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segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Poesia de Sebastião Borges de Barros e as Festas em Sua Homenagem

- Relação Summaria dos fúnebres Obséquios que se fizeram na Bahia, na
morte do Fidelíssimo Rei D. João V.

Soneto


“Quando ao Sceptro conspira a parca dura,
Também contra o Imperio se conspira;
Pois quando à Magestade a vida tira,
Ao orbe Lusitano a dor apura.

Contra o Monarca, e o Reyno se conjura,
Ao Reyno dando a pena, ao Rey a pira;
E tudo quanto a dor hoje respira,
São fieis exprestoens de magoa pura.

Nesta perda fatal do Soberano,
Todo o Imperio em fim sem refrigerio,
Sente a dor, sente a perda,e sente o damno:

Porém mais o Brasilico Emisferio
Por parte mais vital, se não me engano,
Ou por parte mayor do Luso Imperio.”

Este soneto foi escrito por Sebastião Borges de Barros e encontra-se editado no livro de seu irmão, João Borges de Barros. “Relação Panegyrica das Honras Fúnebres”.



FAUSTISSIMAS FESTAS



Conforme registro no catálogo de Barbosa Machado, as citações de Francisco Calmon, a respeito da Relação das Faustíssimas Festas que celebrou a Camera da Villa de Nossa Senhora da Purificação - Santo Amaro na Comarca da Bahia, esta festa foi motivada pelos Augustíssimos Desposórios da Serenissima Senhora D. Maria, Princesa do Brasil com o Serenissimo Senhor D. Pedro Infante de Portugal, seu tio, e dedicada ao Senhor Sebastião Borges de Barros, cavalleiro professo na Ordem de Christo, Capitão Mór das Ordenanças da mesma Villa, familiar do Santo Offício, deputado actual da meza de Inspecção, e Academico da Academia Brazilica dos renascidos, por Francisco Calmon, fidalgo da casa de sua Magestade, e Academico da mesma Academia, nascido na Bahia no dia 18 de Setembro de 1703.


Rubens Borba de Morais, informa que além da relação, havia três sonetos. Entretanto não constavam neste exemplar.


Ramiz Galvão comenta a obra como se segue:


" A raridade d'este opusculo e a circumstancia de se-acharem nelle descriptas festas celebradas em uma modesta villa do Brazil no anno de 1760 nos-impõem a obrigação de extractar d'elle o que mais curioso fôr. Eis em que consistiram essas demonstrações do publico regosijo":




  • dia 1º de Dezembro: pregão (1) publico das festas pelas ruas principaes da villa:


  • dias 2 a 7 do mesmo mez: seis dias successivos de luminarias:(2)


  • dia 8: festa annual da padroeira da villa:


  • dia 9: a primeira dança dos officiaes da cuttelaria e carpintaria asseadamente vestidos com farças mouriscas:


  • dia 10: tres contradanças dos alfaiates pelas ruas ao som de acordes instrumentos:


  • dia 11: as danças dos çapateiros e corrieiros:


  • dias 12 e 13: repetição dos mesmos folguedos:


  • dia 14: a dança dos congos, que apresentárão os Ourives em forma de embaixada:


  • dia 15: de manhan - o Te Deum laudamus na egreja da matriz de N. S. da Purificação, com missa cantada pelo coadjutor Manoel Dias Seabra, e oração gratulatoria pelo vigario Dr. francisco Xavier da Palma Mattos e Abreu; á tarde- procissão solemne acompanhada pelo Senado da Camara e pelo Regimento de ordenanças da villa commandado pelo capitão - mór Sebastião Borges de Barros; á noite -huma luzida encamizada de vinte parelhas, vestidos os Cavalleiros á Mourisca.


  • dia 16: á tarde saiu o Reinado dos Congos, que se compunha de mais de 80 mascaras, com farças ao seu modo de trajar, riquissimas pelo muito ouro, e diamantes, de que se ornavão e chegando aos Paços do Conselho, onde tomaram assento o rei e a rainha, lhes fizeram sala os Sôbas, e mais mascara da sua guarda, sahindo depois a dançar as Talheiras e Quicumbís ao som dos instrumentos proprios do seu uso, e rito, Seguiu-se a dança dos meninos Indios com arco, e frecha :


  • dia 17: Huma magnifica cavallaria de oito parelhas, Passadas as parelhas, tiraram lanças, jogaram as cannas, e fecharam o festejo d' esta tarde com uma bem ordenada, e vistosissima escaramuça:


  • dia 18 : - de manhan, sahio segunda vez o Reinado dos Congos com todo o seu estado; - á noite representou-se a comédia = Porfiar amando = sob a direcção de Gregorio de Souza e Gouvea, que foi tambem o auctor da = Loa = allusiva ao augusto matrimonio dos principes:


  • dia 19: á tarde - repetio-se a Cavallaria na forma praticada na do primeiro dia:


  • dia 20: á tarde - o mesmo folguedo da vespera, e mais o espectaculo dos carneiros, que os mesmos Cavalleiros déstramente cortárão, concluindo tudo com huma vistosa, e especial escaramuça:


  • dia 21 : sahio terceira vez a publico o Reinado dos Congos:


  • dia 22 : á noite - representou-se a opera da Fabula de Anfitrião ... executada ao vivo pelois mais déstros, e habeis estudantes da classe do Reverendo Padre Mestre João Pinheiro de Lemos. E assim terminaram os festejos tão curiosamente descriptos pelo Academico Francisco Calmon.

Matriz de Nossa Senhora da Purificação - Santo Amaro

Comparando-se estas citações com a descrição da Relação contida na Bibliografia Brasiliana, faltam aqui, duas fôlhas preliminares e duas fôlhas inumeradas, no final, onde estariam as licenças. (Nota do Autor do Catálogo).

Estas festas realizadas no período Colonial entre os séculos XVI e XVIII, foram muito bem explicadas por Mary Del Priore, no livro "Festas e utopias no Brasil colonial" a conceituada historiadora e escritora nos fornece explicações que achamos necessárias ao entendimento das Faustissimas Festas ocorrida em Santo Amaro, tão detalhadamente descritas por Francisco Calmon, destacamos alguns importantes textos:

" Havia Vários sentidos nas funções aparentemente irrelevantes da festa, dando persistência a certas maneira de pensar, de ver e de sentir. A mistura entre o sacro e o profano valia para diminuir e caricaturizar o pagão, o inculto, o diferente do europeu branco e civilizado. Os mitos pagãos eram assim esvaziados e recuperados para serem vivenciados exclusivamente como parte da festa. A América e a África, continentes recém explorados, eram retratados de acordo com os objetivos de colonização: escravos, pedras preciosas, aventura, fêmeas disponíveis - em tudo deviam parecer um espaço de concupiscência sonhada e de riquezas. O negro e o índio associavam-se ao perigo e ao mal e confundiam-se com os jacarés, cobras e dragões sobre os quais iam montados. Na sua estranheza aparecem também como o avesso da civilização ocidental cristã. Sua maneira de vestir-se apenas com penas e adereços justificava sua inferioridade técnica e, por conseguinte, a sua escravidão. Na 'festa dentro da festa' que é a procissão, percebe-se um canal eficiente de circulação de idéias entre colonizados, colonizadores, vencidos e vencedores, tristes e alegres" (Mary del Priore, 1994: 49/50).


"O Rei e a religião, numa aliança colonizadora, estendiam o seu manto protetor e repressor sobre as comunidades, manto este que apenas por ocasião de festividades coloria-se com exuberância". (Mary Del Priore, 1994: 15).


" Serão todos os irmãos desta irmandade obrigados a assistir a todas as festas do Senhor como fica dito, e muito principalmente a Semana santa em Quinta-Feira maior, pela manhã, para a solenidade daquele dia e semana, para a qual e para as mais da Quaresma" (Mary Del Priore, 1994-24).


"Homens bons, com ricas capas bordadas e cocares magníficos, montados em cavalos ricamente ajaezados, acompanhavam o procurador da câmara que lia o bando anunciando a festa. Para que nenhuma palavra se perdesse, um `porteiro' [cobrador de direitos reais] repetia suas palavras e ambos iam acompanhados do alcaide da vila" (Mary Del Priore, 1994:30)


" Em meio à pluralidade do evento que têm lugar regrado dentro da festa ( percebemos que há um rítmo entre o desfilar da procissão, a passagem dos carros alegóricos e os dançarinos, o momento da queima de fogos ou da cavalhada ), ocorrem fatos menores cuja função deve ser interpretada, quer salientando os momentos de integração entre diferentes segmentos sociais quer apontando suas maneiras específicas de usar a festa, como um espaço de diversão; tais partes do todo comemorativo são igualmente importantes para qualquer dos grupos sociais que dele participam" ( Mary Del Priore, 1994:63).